sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

SaYe - Capítulo 02.

Tradução: Yasmin
Revisão: N'Diih
— Equipe KhunPandex Traduções.

De acordo com as palavras de sua mãe… Jiang Cheng subitamente sentiu que isso foi um pouco estranho. Sua linha de raciocínio foi inesperada e quaisquer palavras que fossem esquecidas em um instante.
Nos últimos dez anos ou em parte de sua vida, tinha pais e família. Se a relação era boa ou ruim, a mãe sempre foi uma mulher chamada Shen Yi Qing, o pai era um homem chamado Jiang Wei e seus irmãos mais novos sempre foram insensíveis… Agora, de repente, havia outra adição. Li Bao Guo e… alguns outros nomes que ele já havia esquecido.
Ele honestamente não conseguia envolver sua cabeça com isso.
O relacionamento que teve com sua família foi de fato atingido pela tensão; seja seus pais ou irmão, todos pegariam fogo ao entrarem em contato. Pensando melhor, ele não falava com seu irmão há quase um ano e até mesmo sua mãe calma e contida era frequentemente pega perdendo a compostura.
Mesmo que este tipo de situação tivesse continuado desde que ele entrou para o ensino fundamental até o ensino médio — com ele tendo sempre pensado em nunca mais voltar para a casa e nunca mais ver seus pais — a ideia de nunca ver o rosto que parecia ter sido moldado de seus pais… Quando este momento se encontrou com ele como um desejo tornando-se realidade bem diante de seus olhos, ainda sentia-se abalado.
Apenas abalado.
Muito abalado.
Desde que sua mãe dissera que havia algo para contar-lhe, alguns meses de guerra fria e formalidades o perseguiria. Mesmo agora, tudo o que acontecia parecia um sonho com o qual ele não podia se sentir culpado.
Na maioria das vezes, não se sentia desconfortável ou com agonia.
O que existia era apenas confusão.
— Frio.
Li Bao Guo se virou e tossiu algumas vezes antes de perguntar:
— É muito mais frio aqui do que onde você estava antes, não é?
— En. — Jiang Cheng respondeu por trás de sua máscara facial.
— Ficará quente assim que entrarmos. — disse Li Bao Guo. Infelizmente, ele tossiu alto e forte o bastante para que seus germes voassem no rosto de Jiang Cheng. — Já limpei e organizei um quarto especialmente para você.
— Obrigado. — Jiang Cheng respondeu, puxando a máscara para cima.
— O que há para agradecer entre nós. — Li Bao Guo tossiu e sorriu ao mesmo tempo em que batia nas costas de Jiang Cheng algumas vezes. — Não há motivos para agradecer entre pai e filho!
Jiang Cheng não conseguiu responder. Aqueles dois tapas nas costas dele eram particularmente vigorosos. No ínicio, ele havia inalado ar frio em seus pulmões e queria tossir, mas uma vez que ele ouviu Li Bao Guo tossir, Jiang queria tossir ainda mais.
Jiang Cheng não conseguiu responder. Aqueles dois tapas nas costas dele eram particularmente vigorosos. No início, ele havia inalado um pulmão cheio de ar frio e queria tossir, mas uma vez que ouviu Li Bao Guo tossir, ele queria tossir ainda mais. Com mais dois tapas, ele simplesmente se inclinou para o chão e tossiu descontroladamente ao ponto de suas lágrimas quase saírem.
— Seu corpo não é tão bom assim. — Li Bao Guo olhou para ele. — Você tem que se exercitar. Quando eu tinha a sua idade, eu era tão forte quanto um urso.
Mais uma vez, Jiang Cheng se recusou a responder. Em vez disso, inclinou-se um pouco e puxou o braço, dando um sinal de positivo ao homem. Li Bao Guo começou a rir alegremente.
— Exercício! Eu ainda dependo de você para cuidar de mim mais tarde!
Ao ouvir isso, Jiang Cheng endireitou as costas e olhou para ele.
—Vamos lá. — Li Bao Guo deu um tapinha nas costas dele novamente.
—Não me toque. — Jiang Cheng franziu as sobrancelhas.
—Yo? — Li Bao Guo forçou olhos razoavelmente redondos olhou para ele — O quê?
Jiang Cheng olhou-o nos olhos por um momento antes de baixar a máscara.
— Não bata nas minhas costas.
A casa de Li Bao Guo ficava em uma rua pequena e antiga, com pequenas lojas e crianças de ambos os lados. Elas estavam aleijados, mas cheios de vitalidade e amplitude de vida — comida, roupas e produtos para uso diário estavam todos disponíveis com prédios baixos localizados em cima das lojas.
Jiang Cheng levantou a cabeça para olhar além dos fios elétricos que se cruzavam acima apenas para ver as paredes. A cor original das paredes externas era impossível de decifrar, especialmente se a cor escura e sombria vinha do céu lá fora ou se eram originais.
Com um coração cheio de sentimentos, não podia sair do lugar, seguiu Li Bao Guo em um corredor. Eles cortaram algumas pilhas de objetos diversos, vegetais e pararam na frente de uma porta no lado mais interno do primeiro andar.
— O ambiente aqui definitivamente não pode se comparar ao que você estava antes. — disse Li Bao Guo ao abrir a porta. — Mas o que é meu é seu!
Jiang Cheng não disse nada quando olhou para o corredor em que havia uma lâmpada coberta por teias de aranha. Ele podia praticamente sentir a lâmpada sendo sufocada até não conseguir respirar.
— O que é meu é seu! — Li Bao Guo abriu a porta, virou-se e deu um tapinha no ombro dele. — O que é seu é meu! Essa é a relação entre pai e filho!
— Eu te disse, não me toque. — Jiang Cheng disse, bastante irritado.
— Yo. — Li Bao Guo entrou na sala e acendeu a luz. — Você realmente foi mimado, falando assim. Deixe-me dizer-lhe, eu nunca mimei seu irmão e irmã antes. Se você tivesse crescido em casa o tempo todo, teria consertado com algumas surras... Venha, você vai dormir neste quarto... Este quarto era do seu irmão…
Jiang Cheng não deu ouvidos ao que Li Bao Guo disse quando arrastou a mala para o quarto. Vendo que este apartamento era apenas uma unidade de dois quartos, realmente fez alguém se perguntar como uma família grande era capaz de viver em um espaço tão pequeno.
O quarto que era supostamente "limpo e arranjado"... Provavelmente não estava limpo. Sem olhar tanto para dentro e cheirar o odor, pode-se facilmente deduzir que as partículas de poeira no ar se misturavam com um leve cheiro de mofo.
Dentro havia um guarda-roupa antigo, uma mesa de estudos e uma cama de armação cheia de lixo no andar superior. No entanto, o nível inferior foi limpo.
— Deixe suas coisas aqui e arrume-as amanhã. — disse Li Bao Guo. — Vamos, pai e filho, tomar uma bebida.
— Beber o quê? — Jiang Cheng olhou inexpressivamente e deu uma olhada no celular. Já eram quase dez horas.
— Álcool. — Li Bao Guo olhou para ele. — Nós não nos vemos há dez anos. É natural que tenhamos uma bebida para celebrar esta ocasião!
— ...Não. — Jiang Cheng ficou um tanto sem palavras. — Não quero beber.
— Você não quer beber? — Os olhos de Li Bao Guo cresceram em diâmetro. Depois que ele olhou fixamente para ele por alguns segundos, seus olhos finalmente se contraíram, e em vez disso um sorriso apareceu. — Não me diga que você não tomou uma bebida antes? Você já está no colegial…
— Eu não quero beber. — Jiang Cheng o interrompeu. — Quero dormir.
— Dormir? — Li Bao Guo congelou, um pouco perplexo. No entanto, não questionou mais e, em vez disso, virou-se para sair enquanto pronunciava simultaneamente algumas palavras com sua voz rouca. _—Claro, claro, claro, você pode dormir, durma.
Jiang Cheng fechou a porta do quarto e ficou por quase cinco minutos parado antes de se dirigir ao closet.
Uma vez que a porta do armário se abriu, ficou instantaneamente paralisado pelo forte cheiro de naftalina que assaltou seus sentidos. Um wardrobre com duas portas estava completamente empacotado na metade do caminho com quilts, cobertores, jaquetas velhas de algodão e toalhas que tinham franjas que fluíam como borlas ao lado.
Esse estado de espírito era difícil de expressar. Jiang Cheng estava certo de que não sentia saudades da casa e dos membros da família que moravam a muitas horas de distância. No entanto, começou a perder seu próprio quarto.
Tirou algumas roupas aleatórias de sua mala e pendurou-as no guarda-roupa enquanto os res foram guardados na mala e guardados no fundo do armário. Depois, pegou um frasco de perfume e pulverizou-o dentro do armário, antes de finalmente fechar a porta e sentar-se ao lado.
Quando o telefone dele tocou, tirou para dar uma olhada só para ver aquele “mamãe” exibida na tela; que o levou a atender a ligação.
— Você chegou? — A voz da mãe soou do outro lado.
— En. — Jiang Cheng respondeu.
— As condições não são tão boas aqui. — disse a mãe. — Você provavelmente precisará de algum tempo para se ajustar.
— Não há necessidade. —Jiang Cheng disse.
A mãe fez uma pausa por um segundo
—Xiao Cheng², eu espero que você não sinta…
— Não. — Jiang Cheng disse.
— Nesses dez anos, nós não tratamos você injustamente. Seu pai e eu nunca deixamos você saber que você foi adotado, certo? — A voz de mamãe continha uma insinuação de sua severidade que geralmente estava lá.
— Mas eu descobri. — disse Jiang Cheng. — E eu também fui expulso.
— Não se esqueça, seu pai acabou no hospital no Ano Novo por sua causa! Ele ainda não recebeu alta! — A voz da mãe aumentou.
Jiang Cheng não respondeu. Realmente não conseguia entender o que seu pai internado no hospital, devido a pneumonia, tinha a ver com ele.
E o que sua mãe tinha a dizer depois, milagrosamente não ouviu claramente. Esta era a sua habilidade — o que não era desejável ao ouvido dele não podia entrar em seu cérebro, independentemente de qualquer coisa.
As críticas duras e vazias de sua mãe e o que ele considerou ser uma conversa completamente ineficaz, eram o selo obrigatório para sua ruptura.
Não queria ouvir. Ele não quis brigar neste ambiente estranho que causou todo o seu corpo a cair em desconforto.
Quando a ligação terminou, não conseguia mais lembrar o foi dito. O que a mãe disse, o que ele disse, tudo já estava esquecido.
•Eu quero tomar um banho• , Jiang Cheng subiu e foi abrir a porta. Quando olhou para a sala de estar, não havia ninguém lá.
Ele limpou a garganta e tossiu algumas vezes, mas ainda assim, ninguém respondeu.
— Você está... aí? — Entrou na sala de estar, sem saber o como chamar Li Bao Guo.
O quarto era muito pequeno — de pé na sala de estar poderia facilmente ver as portas para o quarto, cozinha e banheiro. Li Bao Guo não estava na sala.
•Provavelmente saiu para jogar cartas. Ele é o tipo de pessoa que fica para jogar mais alguns rounds em vez de pegar alguém no cruzamento.•
— Vamos lá, vamos jogar cartas, ah. Há muito tempo sobrando de qualquer maneira. — Jiang Cheng cantou quando abriu a porta do banheiro. — Vamos lá, vamos dar um banho, ah. De qualquer maneira...
Não havia aquecedor de água no banheiro.
— De qualquer forma… — continuou a cantar enquanto se virava para olhar a cozinha que estava ligada ao banheiro. Não havia aquecedor de água; apenas um aquecedor elétrico foi anexado à torneira.
—Em todo o caso...
Não conseguia mais cantar. Depois que ele andou ao redor da sala mais algumas vezes para confirmar que realmente não havia aquecedor de água, apenas sentiu o coração sufocante. Sua mão bateu contra a torneira.
— Porra.
Tendo vagado o dia todo, seria impossível para ele adormecer sem tomar banho.
No final, não teve escolha a não ser retornar ao seu quarto e arrastar sua bagagem. Pegou um balde desmontável e levou baldes atrás de baldes de água para o banheiro, o tempo todo vestindo apenas suas cuecas. Indo e voltando, esfregando e lavando a si mesmo, finalmente terminou.
Quando ele saiu do banheiro, uma barata passou correndo por seus pés. Saltou para evitá-la, quase batendo a cabeça na porta.
Quando Jiang Cheng voltou ao seu quarto e apagou a luz na tentativa de forçar-se a dormir, notou que a sala não tinha cortinas, e a razão pela qual ele não pôde ver do lado de fora deveu-se à janela imunda.
Puxou a tampa para cima, mas por hesitação, puxou uma fungada. Uma vez que ele confirmou que estava limpo, soltou um suspiro de alívio, mas sinceramente, não estava nem com vontade de suspirar.
Jiang Cheng manteve os olhos fechados por mais de meia hora, no entanto, mesmo quando seus olhos estavam doloridos, o sono ainda não sucumbia. Quando estava pensando em fumar um cigarro, seu telefone tocou.
Viu de relance, era Pan Zhi que lhe enviou um texto.
“Porra, você foi embora? O que diabos está acontecendo?”
Jiang Cheng acendeu um cigarro e discou o número de Pan Zhi, e enquanto segurava o cigarro na boca, dirigiu-se para a janela e pensou em abri-la.
Infelizmente, a janela estava coberta de poeira e ferrugem. Ele ficou inquieto por um tempo, e mesmo quando Pan Zhi já havia atendido o telefone, a janela não se movia nem um milímetro.
— Cheng? — Pan Zhi baixou a voz para o volume de um ladrão no trabalho.
— Porra. — O dedo de Jiang Cheng foi picado por algum objeto estranho não identificado. Ele apertou as sobrancelhas e jurou para si mesmo, finalmente desistindo da idéia de abrir a janela.
— Qual é a sua situação? — A voz de Pan Zhi ainda estava contida. — Hoje, ouvi de Yu Xin que você foi embora? Você não disse que diria quando iria embora? Até comprei uma pilha de presentes para ver você!
— Envie-os para mim. — Jiang Cheng vestiu o casaco e, com o cigarro na boca, entrou na sala de estar. Mas assim que ele abriu a porta e deu o primeiro passo para fora, percebeu que não tinha as chaves para este lugar. Sem escolha a não ser recuar, Jiang Cheng abriu a janela na sala de estar.
Seu humor atual era tão assustador quanto uma violenta tempestade de vento. Quando outro centavo de descontentamento surgisse, seria capaz de sair em um verso de canções de batalha, cheio de raiva e aborrecimento.
— Você já está aí? — Pan Zhi perguntou.
— En. — Jiang Cheng encostou-se ao peitoril da janela e olhou para a escuridão de cor de ônix da rua.
— Então, como é? Como é esse seu pai biológico? — Pan Zhi questionou novamente.
— Você tem um assunto para discutir? — Jiang Cheng disse. — Eu não quero falar agora.
— Merda, não é como se eu fosse a pessoa que lhe jogou aí. — Pan Zhi se enfureceu. — Por que você está ficando irritado comigo? Quando sua mãe propôs isso, “deve haver um acordo com o adotado”, você não hesitou em nada, agora você está de mau humor!
— Não hesitar não entra em conflito com o desprazer. — Jiang Cheng soltou um bocado de fumaça.
A estrada que não tinha tinha alma à vista produziu subitamente uma pequena sombra humana fina; com um passo no skate, voou a uma velocidade surpreendente.
Jiang Cheng se distraiu e pensou na menininha chamada Gu Miao. Certamente há muitas pessoas brincando com skates nesta cidadezinha ruim.
— Que tal eu ir aí? —Pan Zhi perguntou de repente.
— En? — Jiang Cheng deu uma segunda olhada.
—Eu disse que vou visitá-lo — Pan Zhi reafirmou. — Ainda faltam alguns dias para a escola começar. Eu pessoalmente posso entregar as coisas que eu comprei para você também.
— Não. — Jiang Cheng rejeitou.
— Não seja teimoso comigo, você não contou a ninguém mais a sua situação. Agora, você só tem que deixar eu lhe dar um pouco de calor. — Pan Zhi suspirou. — Apenas me deixe ir consolá-lo.
— Conforto como? — Jiang Cheng declarou.  — Com a sua boca?
— Porra! Maldito seja, Jiang Cheng, tenha um pouco de vergonha³, ok? — Pan Zhi gritou do outro lado.
— Já que você quer tanto me ver e é inflexível, por que eu preciso de vergonha? Eu deveria cooperar com você. — Jiang Cheng circulou a sala com o cigarro na mão e encontrou um oito tesouros decongee can”⁴ cobertos por cinzas de cigarro. Quando ele abriu, os anos de odor de cigarro quase o fizeram vomitar antes mesmo que tivesse tempo de identificar claramente o conteúdo dentro dele.
Jogou a ponta do cigarro dentro e fechou a tampa — naquele momento, sentiu como se nunca mais quisesse fumar novamente pelo resto de sua vida.
Este era um ambiente estranho e desagradável, com uma estranha e desagradável "família".
Jiang Cheng achava que essa situação lhe causaria insônia, mas, quando se deitou na cama, a agonia de não se deixar levar pelo sono desapareceu. Ele inesperadamente percebeu que estava com sono, e não apenas sonolento — era a sonolência junto com a extrema fadiga, semelhante a ter passado mais de meio mês puxando a noite toda para exames.
Que inesperado.
Depois que ele fechou os olhos, dormiu como se tivesse perdido toda a consciência.
Uma noite sem sonhos.
Quando acordou de manhã com a sensação inicial de todo o seu corpo se sentindo dolorido, Jiang Cheng teve a concepção de sua verdadeira identidade sendo um trabalhador carregando cargas pesadas no cais, do tipo onde ele ainda tinha que terminar suas porções semanais de trabalho…
Olhou para o telefone para ver as horas. Era bem cedo, só um pouco mais de oito.
Quando vestiu as roupas e saiu da sala, viu que tudo na sala havia mantido o arranjo da noite anterior, até o outro quarto desocupado tinha uma cama que permanecia a mesma.
Li Bao Guo não voltou a noite toda?
Jiang Cheng apertou as sobrancelhas. Depois que ele terminou de lavar, se sentiu um pouco envergonhado. Sua atitude na noite passada foi um pouco dura — não havia más intenções por trás de Li Bao Guo, que o levou a beber, já que honestamente poderia contar com hábitos diferentes, mas rejeitou duramente a oferta. Não pode ser que Li Bao Guo não tenha retornado a noite por causa disso, certo?
Hesitou um pouco e pegou o telefone com a intenção de ligar para Li Bao Guo. Apesar de não terem bebido juntos ontem à noite, não deveria haver problema em tomar café da manhã juntos pela manhã.
Enquanto discava os números, o som das teclas tilintando passou pela porta, e a fechadura seguiu o exemplo. Os sons se sustentaram por vinte, trinta segundos antes que a porta fosse finalmente aberta.
Li Bao Guo entrou, envolto em um corpo de ar frio. Seu rosto estava escuro e suas feições cheias de fadiga.
— Sua vez? — A voz alta de Li Bao Guo soou ao ver Jiang Cheng. — Você acordou bem cedo, dormiu bem?
— ...Não é ruim. — Jiang Cheng sentiu um cheiro de cigarro grosso de Li Bao Guo enquanto respondia, também estava misturado com um cheiro sujo inefável — como os assentos vermelhos e verdes de couro de antigamente.
— Você tomou café da manhã? — Li Bao Guo tirou o casaco, sacudiu-o e o cheiro ficou mais forte. A sala de estar que não era grande, estava agora cheia do estranho odor.
— Ainda não. — disse Jiang Cheng. — E quanto a nós...
— Há muitas lojas que vendem o café da manhã do lado de fora, você pode ir comer. — disse Li Bao Guo. — Eu estou cansado, então vou tirar uma soneca primeiro. Se eu não acordar ao meio-dia, você também pode comer sozinho.
Jiang Cheng observou quando ele entrou no outro quarto, e sem tirar nenhuma de suas roupas, bateu na cama e puxou a coberta para cima.
— Ontem à noite… O que você estava fazendo?
— Joguei cartas. Ultimamente, minha sorte tem sido muito ruim. Mas foi muito bom ontem! Você, meu menino, me trouxe boa sorte! — Li Bao Guo disse alegremente enquanto fechava os olhos.
Jiang Cheng pegou o par de chaves que foram colocadas na mesa e virou-se para sair da porta. Ele sentiu que seu embaraço desde cedo era muito ingênuo.
A neve havia parado, mas o ar que passava era gelado e cortava quando penetrava em seus ossos.
As ruas estreitas continham mais vivacidade pela manhã, com pessoas e carros à vista, e até mesmo o som de fogos de artifício podia ser ouvido. No entanto, quando tudo ficou claro, a dilapidação logo se tornou visível.
Jiang Cheng percorreu as ruas de um lado para o outro até que finalmente entrou em uma casa de bolinhos. Tendo comido alguns pãezinhos recheados e uma tigela de tofu-coalhado, ele ainda não sentia a dor saindo de seu corpo. Pelo contrário, parecia ter despertado ainda mais desconforto.
Pensando que poderia ter pegado um resfriado, comprou uma caixa de remédios da farmácia vizinha depois do café da manhã.
Depois que ele comprou o remédio, ficou parado nas laterais da rua sentindo-se um pouco incerto. Deveria voltar?
A imagem de Li Bao Guo caindo na cama envolto em um corpo de estranho odor o perturbou, ele não tinha certeza do que poderia fazer quando retornasse.
Para dormir ou olhar fixamente para o espaço?
Ficou na frente da farmácia por alguns minutos e decidiu dar uma volta por ali para se familiarizar com o lugar onde não tinha certeza de quanto tempo estaria residindo.
Ele andou sem rumo por um beco para a rua principal e fez uma curva para outro pequeno beco paralelo ao anterior. Jiang Cheng queria determinar se havia um caminho direto que pudesse levá-lo de volta ou não.
Nesse beco, ele viu uma pequena loja de música e uma sorveteria com um interior que era muito rosado e delicadamente decorado. Mas, além dessas duas lojas, as outras não eram diferentes da rua anterior.
Ao passar por um lugar que era decorado como um pequeno supermercado, mas na verdade era apenas uma loja de artigos diversos, ele parou e empurrou a porta, com a intenção de comprar uma garrafa de água para poder tomar o remédio.
Quando o ar quente misturado com o aroma almiscarado de limões o atingiu no rosto ao entrar na loja, parou na entrada e imediatamente quis voltar.
Havia quatro pessoas espremidas na pequena área atrás do balcão da caixa registradora — todos estavam sentados ou encostados na cadeira.
No momento em que ele entrou, as pessoas que estavam conversando, pararam abruptamente e simultaneamente levantaram suas cabeças para olhar para ele.
Jiang Cheng estudou essas quatro pessoas, desde suas características físicas até sua expressão facial, de seus aparelhos ao maneirismo; cada um de seus rostos parecia ter um único caractere escrito nele.
不 , 是 , 好 , 鸟。 [bu, shi, hao, niao]5
Quando hesitava em se virar e sair ou pegar uma garrafa de água da prateleira próxima, o canto dos olhos de Jiang Cheng pousou em outras três pessoas que estavam amontoadas em frente à prateleira de armazenamento.
Virou a cabeça, mas não viu as pessoas claramente. Primeiro, viu um chão cheio de cabelos e uma careca brilhante, seguido por um par de olhos grandes.
 ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄
Nota de tradução:
[1] "Yo": geralmente é usado para expressar pequenas surpresas; traduzido também para 'oh'
[2] "En?": Mesmo caractere, mas usado de forma diferente de uma resposta no lugar do sim, é mais como um "o quê?" ou um "hein?". Questionamento.
[3] "Tenha um pouco de vergonha": a tradução direta é, na verdade, “Tenha um pouco de rosto", significando que a pessoa deve saber quando suas ações são vergonhosas e pertencem a sua imagem — a face, que segura todo o orgulho e honra de uma pessoa.
[4] "Oito Tesouros de Congee", Tradução direta de 八宝粥: Um produto alimentício que pode ser encontrado em lojas, vendidos em latas. Normalmente consiste em feijão vermelho, jujuba vermelha seca, arroz glutinoso, longan, semente de lótus, amendoim, castanha e arroz painço, mas nem sempre é restrito a estes. Qualquer sortimento de arroz, feijão, nozes e sementes são contados como "tesouros".
[5] 不 , 是 , 好 , 鸟。 (Bù, shì, hǎo, niǎo - não, a, bom, pássaro) é uma espécie de gíria que as pessoas usam: “看 你 就 不是 什么 好 鸟” que basicamente significa "eles parecem problemáticos".

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