sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Manner of Death - Capítulo 4 - Segredo

 


Tradução: Wingrid

Revisão: Victor

- Equipe KhunPandex Traduções

Entrei na aula com um sorriso vitorioso. Meus companheiros de classe me olharam surpresos, e eu caminhei direto para minha mesa perto da janela. Cruzando minhas pernas, olhei o exterior enquanto inalava um pouco de ar fresco nos meus pulmões.

"Maldito!" Win, meu colega de sala, se deslizou para minha mesa e falou alto. "Caralho! Você é um nerd!"

Olhei para ele, "O que foi, Win?"

Desta vez, não só Win rodeava minha mesa. Ai'Tim, Ai'Son, Ai'Gang e outros amigos estavam me rodeando.

"Como fez isso? Antes da prova não estava jogando comigo? Você colou, não foi?"

Sacudi as mãos para dizer a todos para pararem de falar, "Meninos, por favor, se acalmem. Obrigado por me parabenizarem, me sinto muito honrado."

E logo todos nós começamos a fazer barulho, até o professor Panee entrar na sala. Meus amigos imediatamente voltaram para seus lugares antes de o professor tentar reclamar.

"Os estudantes o cumprimentam!" Apesar de a chuva golpear com força, a voz bonita do líder da sala era mais forte. Todos nós nos levantamos e juntamos as mãos para prestar respeito e cumprimentar em uníssono. O professor Panee assentiu com a cabeça.

"Olá meninos, bom dia a todos. Em primeiro lugar, quero parabenizar os estudantes que passaram no exame de ingresso para a faculdade. Vocês são muito bons." Os rígidos olhos do professor Panee se moveram para me olhar. "Especialmente, o sr. Bunnakit. Parabéns por ser o único que passou na prova de ingresso para a faculdade de medicina e na sua primeira tentativa."

Apesar de a voz do professor Panee não parecer querer me parabenizar, eu sorri muito. O professor Panee e eu somos próximos, mas por terem me chamado para sala do diretor, ele me considerava um menino rebelde, que costuma brigar com os outros estudantes. A única coisa boa em mim que ninguém pode reclamar é minha habilidade na escola. Eu gosto de estudar, me alegro quando encontro problemas em física difíceis e supercomplicados. Meu coração fica feliz quando penso em problemas de cálculo, e minhas notas podem não serem as melhores, mas sempre posso ser considerado o melhor da classe. Esta é a razão pela qual eu sobrevivo nessa escola sem ser expulso.

Tenho que atuar assim, como um rosto mascarado. Meu mal caráter me fez ser alguém a quem respeitam. Tenho que atuar como um líder gângster. Assim, ninguém se atreverá a perturbar meus assuntos pessoais.

Depois da aula, peguei minha mochila e desci as escadas rapidamente. Me apressei para chegar em casa para comemorar minha vitória com meus pais. O fato de eu dizer que queria ser médico os deixaram muito surpresos, mas muito orgulhosos, e disseram que essa é a recompensa para compensar minha rebeldia.

"Bunn!" A voz de alguém me fez parar bruscamente, mas não olhei para o dono dela. Escutei os passos de alguém correndo para mim. A pessoa segurou meu pulso, e eu a olhei nos seus olhos, "O que foi?"

"Bunn, me desculpe." Sua mão me apertava com força. Retirou-a com um suspiro de frustração. Ainda bem que ninguém estava na rua nesse momento.

O dono da voz se chama Tar, um amigo que era da mesma sala que eu. Olhei friamente para o rosto bonito do outro homem.

"Já terminamos, Tar." Disse friamente: "Não tem nada que se desculpar."

"Mas não quero terminar. Admito que fui um estúpido. Vou consertar os boatos e direi que só estava brincando."

"Consertar não vai me fazer se sentir melhor." Me virei para enfrentar Tar. Minhas duas mãos estavam no bolsa da minha calça. Inclinei a cabeça, olhando para meu ex-namorado com uma expressão fria. "Você queria dizer para todo o colégio que eu sou gay. Logo entrarei para a faculdade, uma nova sociedade. Já não estou mais interessado nisso."

Tar abaixou a cabeça enquanto apertava as mãos, "Mas você terminou comigo porque eu contei para mais alguém sobre nós. É tão horrível? Eu não quero me esconder de ninguém."

"Você acabou de dizer que queria consertar a notícia. Naquele momento, você queria que todos soubessem. E então agora não quer mais que eles saibam?" Aproximei meu rosto do dele. "Já terminamos, Tar."

O que eu queria esconder esse tempo todo era minha orientação sexual. Tar e eu começamos a sair desde quando estávamos no segundo ano do colégio. Antes disso, só via Tar como meu companheiro de classe. Mas Tar se interessou em mim e tentou se aproximar desde que vim estudar aqui. É o primeiro amigo que se atreveu a flertar comigo, e eu admirei sua coragem, então aceitei sair com ele em segredo durante vários meses. Faz três dias, não sei o que aconteceu exatamente, mas ele disse ao seu colega da nossa relação. Então, seus amigos me procuraram e me perguntaram qual era a verdade.

É estranho que eu não me sinta chateado. Também estou feliz de ter uma razão para terminar com Tar. Porque não o amo, para ser mais honesto, nunca amei ninguém.

Posso sentir a ira da pessoa que estava parada na minha frente, "Não pense que irá para faculdade de medicina, e que as pessoas não irão descobrir. Os segredos não podem ficar ocultos para sempre." Tar disse em um tom baixo, mas fácil de escutar.

Suspirei. "Se eu vou ou não conseguir ocultá-los, isso não tem nada a ver como nós dois." Me virei e me afastei, ignorando-o. Sabia que tinha ferido Tar, mas alguém tão bonito como ele pode encontrar uma outra pessoa facilmente, alguém que o ame.

Logo depois da graduação, todos passaremos da vida de ensino médio para outro nível de desafio. Quando eu me tornar estudante de medicina, os atos rebeldes que sempre fiz desaparecerão, e o fato de que eu gosto de homem também mudará.

Por quê? Porque é isso o que a sociedade aceita.

Caminhei até o ponto de ônibus que não era muito longe da escola. Me sentei junto a um menino com um uniforme escolar. Olhando para ele, deveria estar no ensino médio. Olhei ele mais um pouco, antes de virar para olhar os caóticos carros da estrada e comecei a pensar em mim mesmo no passado. Quando eu estava no primeiro ano do ensino médio, estudei em uma escola famosa. Me apaixonei por um cara mais velho, e o resultado de sair abertamente com ele foi catastrófico. Não importava quão bom eram meus estudos, eu não era capaz de suportar a condenação, o preconceito e a perseguição dos meus amigos. Abandonei essa escola famosa no ensino médio e fui para esta pequena escola privada.

Por que isso acontece? Por ser gay? Quando me relacionei com homens, só estive com um de cada vez. Mas ser assim é um nojo para a sociedade. Enquanto que homens que saem com muitas mulheres, ou aqueles que molestam as outras pessoas são elogiados como bons.

A sociedade foi quem me obrigou a ser quem eu sou hoje. Meu verdadeiro eu estava escondido em uma casca grossa — tudo que eu mostrei aos demais não era meu verdadeiro eu — e tem sido assim até eu ter crescido como um adulto e me formado como médico forense.

Minha identidade se converteu em um profundo segredo, tão profundo que às vezes não posso nem o encontrar. Tão profundo, que até eu mesmo tinha esquecido quem eu realmente era.

 

[...]

 

"Doutor Bunn! Doutor Bunn!" A voz de alguém gritou meu nome. Com medo, abri meus olhos. A luz brilhante iluminou minha visão, me fazendo fechar os olhos rapidamente e queixar-me um pouco. Levantei a mão esquerda para proteger-me da luz.

"Você já acordou, certo, Doutor Bunn?" A voz da pessoa que me chamou soava muito aliviada.

Tentei abrir os olhos, lutando contra a luz do teto do quarto. A enfermeira deve ter ligado a luz quando veio ver meus sinais vitais. Pisquei um pouco e me virei para olhar a jovem enfermeira que tinha um medidor de pressão, "Que horas são?" Perguntei.

"São quatro da manhã em ponto, Doutor." A enfermeira me respondeu. "Vim ver sua pressão e vi que estava dormindo muito profundamente, então tive que te chamar em voz alta, porque achei que sua pressão baixaria e entraria em coma. Me desculpe se te causei um grande susto."

"Não tem problema." Levantei minha mão e segurei minha cabeça. Me senti como se tivesse me esquecido de algo.

A silhueta de alguém com casaco e capuz preto passou na minha mente. Isso, alguém tinha invadido meu quarto. Os detalhes do incidente após isso estavam embaçados como se tivesse uma neblina cobrindo minha memória. Me virei rapidamente para mirar a solução salina e logo olhei para a agulha na dobra do meu braço esquerdo.

Foi só um sonho?

"Alguém veio aqui de noite?" Me virei para perguntar à enfermeira.

"Não vi ninguém, exceto o parente do Doutor. Um homem alto que perguntou seu quarto bem tarde da noite."

O homem a quem a enfermeira se referia era o procurador. Disse ser meu parente para poder me ver, "E depois disso?"

"Não vi ninguém entrar na sala. Aconteceu algo?" Perguntou enquanto pegava um termômetro e colocava debaixo da minha axila.

Dei um suspiro de alivio. É normal que as pessoas tenham um pesadelo depois de passar por esse tipo de evento traumático. Não tem como o assassino ter vindo aqui. E os ajustes da solução salina que me injetaram... pode ser devido a isso que de alguma maneira sonhei com ele. Então, se escutou um forte apito vindo da minha axila, e a enfermeira tirou o termômetro para ver minha temperatura corporal.

"Não tem febre. Pode descansar agora, Doutor. O Dr. Surasak deve estar por aqui mais tarde, por volta das 8 da manhã."

"Está bem." Senti vontade de voltar a dormir ao sentir meus olhos pesarem. Surasak é meu colega, que é um cirurgião, e sou razoavelmente próximo dele.

Pedi à enfermeira que deixasse as luzes acesas e, depois que ela saiu do quarto, busquei rapidamente o celular branco que eu tinha colocado ao meu lado. Liguei a tela e olhei. Então, senti uma sensação de alívio no meu peito. Na escola, não gostava muito de Ai'Phud, mas agora que crescemos, me sinto bem em tê-lo como amigo próximo. Um bom amigo que me ajuda mutuamente. Se ele não fosse viciado por mulheres, com certeza me apaixonaria por ele.

Sacudi a cabeça para desfazer rapidamente essa ideia. Não posso, com meus deveres no trabalho, minha reputação, as expectativas das pessoas em casa sobre mim e a cruel sociedade, tudo isso me faz incapaz de amar um homem. Bem, minha felicidade não é importante, este segredo deve permanecer como um segredo para sempre.

 

[...]

 

Surasak entrou no meu quarto junto de um médico neurologista por volta das 8 da manhã. Me deu alta, já que não encontrou nenhuma hemorragia interna no meu cérebro e minha condição tinha melhorado lentamente. Mas Surasak insistiu em me fazer pegar licença de uns dias do trabalho. Quando o cirurgião saiu do meu quarto, a primeira coisa que fiz foi ligar para Phud para saber se ele teve algum avanço. E também para lhe pedir opinião sobre a busca de um novo lugar para eu ficar temporariamente. Nesse celular, tem um número que foi salvo como 'Phud número 1'.

A ligação ficou chamando durante muito tempo antes de ser desligada. Tentei ligar de novo, mas ninguém atendia.

Um sentimento de ansiedade começou a formar-se lentamente. Mas talvez ele esteja dirigindo a caminho do trabalho.

Quando estava quase ligando de novo, a porta se abriu. E foi Fai quem a tinha aberto. A pequena Doutora se sentou ao lado da minha cama com uma expressão de pânico.

"P'Bunn!" Sua cara parecia querer chorar, "O que aconteceu? Como você está agora?"

Me virei para olhar Fai e sorri um pouco, "Me sinto muito melhor agora."

"Soube da notícia esta manhã e me surpreendi muito. Olhando o registro, vi que Pi foi agredido, certo? Disse para polícia?" Falou com pressa. Estendi minha mão e segurei a dela, pequena, para aliviar-lhe o pânico. Ela olhou para a mão, e pude ver suas bochechas brancas e suaves com um tom rosado.

"Logo terei alta, então não fique preocupada, tem muitos policiais perto de mim."

Fai assentiu. "Se tiver algo em que eu possa ajudar, é só me dizer."

Acredito que estou precisando de ajuda. "Fai, você poderia pedir a alguém para me levar para casa, por favor?"

 

[...]

 

Já é tarde e ainda não consigo falar com Phud. Pressionei o botão de encerrar a chamada antes de pegar minha maleta do assento traseiro do carro e logo fechei a porta. Decidi ficar em um hotel temporariamente por razões de segurança — não posso voltar para casa se o assassino ainda não foi achado.

Fai e P'Suthep, o enfermeiro da sala de emergências, foram os que me levaram para casa. Ainda bem que P'Suthep fez seu turno antes, então me esperou sair do hospital para me levar. A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi tomar banho e me trocar. Reuni todas as coisas necessárias e as meti em uma mala. Logo liguei para reservar um quarto em um hotel situado na cidade e saí de casa rapidamente.

Um agradável odor entrou no meu nariz logo que abri a porta do quarto do hotel. Coloquei minha mala na frente do banheiro e fui direto para cama gigante. Acomodei meu corpo para dormir. A ferida na cabeça ainda dói, mas a dor de cabeça e os enjoos já desapareceram. Peguei o celular e tentei ligar para Phud de novo. Se Phud encontrou uma maneira de dizer à polícia, então não terei que lutar tanto e só ficarei calado, trabalhando como sempre até este caso ser concluído e o assassino ser finalmente pego.

'O número chamado não está disponível no momento...' Caralho.

Talvez ele esteja no tribunal. Vou tentar ligar para ele de novo mais tarde.

Peguei o elevador até a parte de baixo do hotel para ir à loja de conveniência ali perto, do outro lado da estrada. Caminhei pela espaçosa e bela entrada, onde tinha algumas pessoas sentadas, provavelmente, turistas.

"Hoje em dia, parece fácil sequestrar uma pessoa." Não prestaria muita atenção nas conversas dos empregados do hotel se não fosse porque escutei a seguinte frase:

"Exatamente! E ainda mais sendo um Procurador. Nossa região começou a ficar perigosa para se viver."

O quê? Parei meus passos e virei para olhar os empregados do hotel que estavam atrás do balcão. Corri até eles, que logo se afastaram um do outro e sorriram amigavelmente. "Tem algo em que eu possa ajudar, senhor?"

"De quem vocês estão falando?" Perguntei. O pessoal do hotel mostrou uma ligeira expressão de surpresa.

"Oh, estamos falando de notícias que circulam na internet, senhor."

"Que notícias!?" Inconscientemente, falei em voz alta.

"Um... um Procurador foi sequestrado e ainda continua desaparecido. Aconteceu na nossa região. A notícia acaba de ser publicada, não faz nem uma hora, e dizem que seu carro estava parado com a porta aberta ao lado da rodovia que sai da cidade, mas não havia nenhum sinal do dono do carro."


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