sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Manner of Death - Capítulo 5 - Dúvida

 


Tradução: Wingrid

Revisão: Victor

- Equipe KhunPandex Traduções


O vento frio sopra na varanda no quarto andar do hotel. Quase não dá para ver as nuvens brancas no céu azul claro. Fiquei quieto com a cabeça baixa e os braços apoiados no corrimão e tenho uma mistura de sentimentos que não consigo suportar. Agarro o celular de Phud, pelo qual neste momento leio as notícias online ao abrir um site da web.

'Um procurador desapareceu misteriosamente. Dizem que isso está relacionado ao seu trabalho.'

O artigo da notícia disse claramente que o procurador está desaparecido.

Alguém encontrou seu carro parado do lado da estrada desde a manhã de hoje. Ninguém pensou que o carro parado era tão incomum até que descobriram que o proprietário era um procurador. Ele não apareceu no tribunal e ninguém o viu durante o dia. Quase não pude acreditar quando vi essa notícia.

É claro que isso não está relacionado com um problema de trabalho. Eu acredito que a causa do sequestro dele seja por minha culpa. O assassino deve ter escutado que eu contei para Phud. Talvez algo que Phud fez tenha provocado o assassino, e ele fez exatamente o que me disse.

Então, o sonho de ontem à noite foi real?

Eu brami, porque me sentia culpado e também incomodado ao ponto de querer explodir e morrer neste lugar. Eu deveria me render? Deveria obedecer ao assassino antes que o número de vítimas aumentasse?

Ou devo chamar a polícia por conta própria?

O que se passou em minha mente foi o sentimento de desconfiança em qualquer um. O culpado parece um homem com ouvidos e olhos por toda parte. Provavelmente, um infiltrado da polícia ou alguém familiarizado com a polícia. É possível que seja um subordinado de algum capitão? Seria um inspetor? Ou talvez um homem comum?

Eu estava completamente no escuro. Não sabia por qual caminho seguir. Isso me obrigou a continuar pelas peças que o assassino já estabeleceu. Terei que escrever um relatório de necropsia dizendo que a srta. Janjira se suicidou e também tenho que concluir dizendo que a primeira necropsia foi um mal-entendido. A evidência que indica que a srta. Janjira foi assassinada pode não ser clara do lado de fora. Mas, quando a abrimos, o dano no tecido do seu pescoço — definitivamente — não pode ter sido causado por um enforcamento. Talvez eu possa mudar o relatório da necropsia, mas as evidências são nítidas, posso ter consequências mais tarde se eu escrever um relatório falso.

Preciso ganhar mais tempo. No momento, o processo da necropsia ainda não está terminado. Falta verificar os resultados do laboratório, como as análises de químicos ou drogas no sangue e na urina e o resultado das manchas de sangue na unha da vítima. Infelizmente, o assassino não deixou nenhuma evidência no corpo, nem mesmo um fio de cabelo.

Então, decidi fazer algo a respeito. Sempre acreditei no meu instinto e desta vez realmente acredito nisso. Começarei a analisar as pessoas que acredito que sejam o assassino e encontrarei qualquer evidência que possa se relacionar com essa pessoa, antes que ele possa me fazer algum mal ou ferir as pessoas que amo.

 

[...]

 

Parei na frente de um prédio comercial situado em uma zona muito concorrida na cidade. Tem um grande letreiro de vinil estendido por duas varandas de edifícios comerciais que diz: 'Professor Particular Tan — Tutoria intensiva para o exame universitário de matemática, física e bioquímica.'

Agora são quase seis da tarde, vi adolescentes tanto em uniformes escolares como em roupas comuns saindo do edifício conversando de forma alegre e relaxada. Peguei meu telefone e o olhei para me assegurar de que não estava errado antes de entrar no prédio.

O professor Tan, cujo nome real é Wiraphong Yotsoongnern, de 26 anos, se graduou com honra na faculdade de bioquímica da universidade mais famosa do Norte e logo veio para esta cidade para abrir uma classe de tutoria. Essas informações não foram tão difíceis de se obter. Abri um artigo com a notícia da morte na srta. Janjira e logo copiei o nome do sr. Wiraphong — o namorado da vítima e também o primeiro a encontrar seu corpo. Logo busquei qualquer informação para investigar quem era essa pessoa realmente. A formação educacional dele apareceu em uma página de Facebook chamada "Professor Particular Tan", e a página também fornecia um mapa. É por isso que facilmente cheguei aqui.

A parte interna do prédio, no térreo, foi organizada como um lugar para se sentar, estudar ou esperar que os pais venham pegar seus filhos. Senti que esse lugar era realmente muito grande para o professor organizar sozinho. Fui diretamente à pequena recepção que estava separada por uma porta de vidro. Tem um letreiro verde ao lado da porta que diz 'Fale Conosco' (para agendar encontros).

"Em que posso te ajudar?" A doce voz do idioma local pode ser escutada assim que abro a porta. Olhei para a dona da voz, que estava sentada atrás de uma mesa cheia de documentos.

"Er..." Eu deveria ser convincente e realista. "Eu gostaria de perguntar sobre as aulas de tutoria para meu filho."

"Oh, bem! Em qual matéria está interessado?"

"O que o professor Tan ensina? "

"Biologia e química." A mulher sorriu docemente.

"Gostaria de ver o professor Tan, onde posso encontrá-lo?"

O sorriso da mulher desapareceu um pouco, "Neste momento, o professor ainda está em aula. Terminará perto das 7 horas da noite."

Sua namorada acaba de morrer, mas ele voltou a ensinar. Quando penso nisso, sinto mais ainda frustração no meu coração. "Obrigado, desculpa te incomodar, mas... pode por favor dizer ao professor Tan que alguém quer conhecê-lo? Esperarei na frente." Dei uma volta e saí da recepção. Sentei-me em um banco com um grupo de estudantes do ensino médio.

Enquanto sentava, fiquei olhando para o celular de Phud em minha mão. Me assustei quando lembrei que meu amigo pode ter sido assassinado. Sei que fazer isso é arriscado e não trago armas comigo, mas usarei esse lugar cheio de gente para me proteger. O que eu queria ver era a cara, a estrutura do corpo e escutar a voz desse professor. Se essa pessoa for o verdadeiro assassino, ao menos aparecer na frente dele servirá como uma declaração de que não ficarei de braços cruzados e o obedecerei. Eu levarei essa pessoa à prisão e trarei Phud de volta.

O tempo passou lentamente. Observei os estudantes saírem do edifício um por um até restarmos apenas eu e mais uma menina que estava sentada no canto jogando com seu celular. O relógio na parede mostra que são 7 horas. Escutei um movimento no andar de cima. O barulho de conversa gradualmente tornava-se mais e mais alto. O que vi em seguida foi um grupo de estudantes descendo do andar superior. A aula do professor Tan deve ter terminado. Me levantei e fixei meu olhar nas escadas...

Eu o vi. Um jovem alto caminhando atrás dos estudantes. Vestia uma camisa preta e jeans. Falava com uma menina que descia junto com ele, como se estivesse explicando algo para ela. Quando chegaram ao térreo, a menina levantou as mãos para prestar respeito. O jovem aceitou com um sorriso antes de ir diretamente até a pequena recepção em que eu estivera antes.

Estava pronto para isso. Minhas duas mãos estavam dentro do bolso da minha calça enquanto olhava a porta de vidro.

O professor Tan saiu da habitação outra vez e olhou ao seu redor como se estivesse procurando alguém, e então seus olhos se encontraram com os meus. Vi que se surpreendeu.

Não tinha razão para se surpreender.

O canto da minha boca se levantou um pouco sorridente e acredito que definitivamente não estou no caminho errado.

Veio direto até mim, e inconscientemente meu pé moveu um passo para trás. Então, observei a estrutura do corpo desse homem cuidadosamente. A altura e a forma dessa pessoa eram similares às do assassino, mas com sua personalidade e sua cara eloquente, Tan parecia uma pessoa boa e respeitável, o que se pode esperar de um professor.

"Você é o pai que queria falar comigo?" E então escutei sua voz.

O professor Tan tem um tom de voz baixo e profundo, mas poderoso. Sua voz pode hipnotizar qualquer um para que preste atenção e se concentre em suas palavras. Gravei sua voz na minha mente para a comparar com a voz do assassino que escutei.

É difícil dizer...

A voz do assassino na minha memória era de tom baixo, similar a essa voz. Mas ela estava sendo pronunciada debaixo de uma máscara, o que a tornava mais indistinta que o normal. Agora, só posso dizer que a voz do professor Tan é bastante parecida com a dele, também é difícil lembrar a voz de um estranho, especialmente quando se está em uma situação crítica com a cabeça ferida. O fato de que talvez eu possa recordar o que aconteceu já é uma coisa boa.

"Senhor?" O professor Tan me chamou e quebrou o silêncio.

Rapidamente, me recuperei e olhei para o jovem que é um pouco mais alto que eu. "... você é o professor Tan, certo?"

"Sim, sou eu." Em vez de responder, acredito que ele estava olhando a ferida na minha testa que estava coberta de gaze e logo desviou rapidamente para outro lado.

"Vim aqui perguntar sobre as aulas de tutoria..." Permaneci levando a fundo essa identidade falsa para poder me aproximar mais. Observei cuidadosamente sua expressão facial, e qualquer coisa que parecesse suspeita na cara dessa pessoa não poderá escapar dos olhos de um médico forense como eu. "Meu filho quer fazer um exame para ser médico, então eu gostaria de te perguntar os detalhes das aulas de biologia. Como ensinará e quais são os temas?"

Vi algo no lado esquerdo da têmpora do professor Tan. Mesmo estando coberto pela franja, ainda assim pude ver um pedaço de band-aid claro e impermeável cobrindo o lado esquerdo da sua têmpora com uma pequena mancha de sangue no exterior. Vi hematomas vermelho-escuro ao redor da ferida que tinham uns três centímetros de diâmetro. Essas características mostram que eles foram causados por um objeto não pontiagudo. Devem ter umas 24 horas, porque o aspecto desses hematomas é o de um recente.

Enquanto observava, meus olhos analisaram o corpo do professor Tan de cima a baixo para verificar a causa da ferida na cabeça. O que eu estava procurando era outras contusões pelo corpo. Se ele estivesse com pequenos machucados espalhados por braços e pernas, essas lesões poderiam ter sido causadas por um acidente de carro. No entanto, se elas ficaram concentradas em uma área vital como a cabeça, então há mais chances de ele ter sido agredido do que ter sofrido um acidente. Como se pode ver pela pele dele, não tem nenhuma outra ferida em seu corpo.

A dúvida cresceu rapidamente na minha mente. Não conseguia lembrar se o rosto do agressor tinha feridas ou não.

"Ensino biologia nas segundas, quartas, sextas e sábados pela tarde. O conteúdo seria biologia para o ensino médio. Me concentro em todos os conteúdos importantes que frequentemente caem nas provas de faculdade. Mas se quiser fazer a prova para medicina, posso organizar uma aula especial baseada no exame de cotas com provas do Instituto de Medicina da Tailândia." Tan levantou seu relógio, parecia que ele tinha pressa para ir a algum lugar, "Se está interessado, pode agendar com Pim na recepção." Apontou para a pequena sala.

"Obrigado." Meus olhos seguem focados em seu rosto sem parar. Se essa pessoa for realmente o assassino, estava atuando de forma muito realista e convincente.

"Então, se me der licença..." Tan curva-se para mim, em um sinal de despedida, e logo sai. Virei para ver aonde ele ia, e então a figura alta parou seus passos e voltou a me olhar. O medo voltou a brotar no meu coração.

"Você é..." Disse, "... um policial, certo?"

Nunca antes tinha ficado tão atordoado.

"Te vi na cena do crime com uma camisa escrito 'Forense'. É um detetive ou algo desse tipo, não é?" Tan se aproximou de mim e me deu um cartão. "Esse é meu cartão de identificação. Por favor, me ligue. Realmente quero saber se Jane se suicidou ou não."

Essa deve ser a razão pela qual ele se surpreendeu antes quando me viu. E pela primeira vez, vi transparecer a tristeza no olhar dele. Abri a boca, mas não soube como responder. Pensei que tudo se resolveria depois de conhecer o professor Tan, mas agora vejo que todos os nós estão enrolados e emaranhados... ao ponto de ser difícil desatá-los. Recebi o cartão com o nome do professor Tan para guardá-lo.

"Durante o dia, a polícia me ligou e me pediu para ir à delegacia. Eles me perguntaram onde que eu estava antes de encontrar o corpo de Jane. Ainda bem que naquela noite eu tinha ido para um casamento e logo depois saí para comer com meus amigos, então tive um álibi para confirmar que eu estive com eles a noite toda. Caso contrário, eu seria o suspeito número um." O professor suspirou um pouco. "Vocês suspeitam de que a Jane tenha sido assassinada?"

Não disse nada, porque meu cérebro ainda tentava organizar tudo o que tinha se passado.

"...é confidencial." Respondi. Logo uma expressão de preocupação se formou na cara de Tan.

"Se houver algum detalhe que possa ser revelado para mim, você poderia, por favor, entrar em contato comigo? Ou se quiserem que eu faça algo, ficarei feliz em ajudá-los no que for. Mas agora eu peço licença para fazer minha tarefa primeiro."

Fiquei quieto enquanto segurava o cartão com o nome da pessoa que tinha acabado de sair do edifício e me senti como se tivesse encontrado um beco sem saída em um labirinto. Estava no caminho errado? Fechei os olhos tentando me concentrar. Agora, tudo está parecendo peças de quebra-cabeça espalhadas; a peça que estou procurando é aquela do canto da imagem, que é perfeita como ponto de partida para conectar-se com a próxima. Ainda não encontrei essa peça. Não estou nem perto.

Mas continuo acreditando que tem algo de errado com o professor Tan. Se ele for realmente o assassino, definitivamente deve saber quem eu sou. Agora, pode estar fingindo que não me conhece. Então, o que devo fazer é segui-lo para ver se ele tem pressa de ir a algum lugar. Talvez fazendo isso, eu encontre alguma evidência que o ligue ao crime. Ou, se o vejo escapando, isso também pode ser considerada como uma boa evidência.

Sem pensar duas vezes, saí rapidamente do edifício comercial. Está escurecendo muito rápido, e o clima do lado de fora está frio. Olhei para esquerda e direita para buscar meu objetivo. Então, vi que o professor Tan caminhava até um carro preto que estava estacionado não muito longe da porta da escola de tutoria. Memorizei o tipo de carro e a placa, antes de ir para o meu carro.

 

Vou te levar para a prisão, Tan, porque você é o assassino.



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