sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Manner of Death - Capítulo 6 - Encontro

 


Tradução: Wingrid

Revisão: Victor

- Equipe KhunPandex Traduções

Não sou um especialista em seguir as pessoas. Embora eu esteja trabalhando na indústria da lei, sou só um médico comum. Eu não sabia como dirigir meu carro atrás do professor Tan de maneira a não levantar suspeitas. Principalmente, por estar dirigindo numa rua quase deserta como essa. Não há muitos carros nesta pequena província; especialmente, quando o tempo passa e chega o entardecer, onde as pessoas uma a uma vão retornando às suas casas. A estrada, que durante o dia possuía carros passando para lá e para cá, começa a ficar tranquila e pacífica. Neste momento, só tem uma caminhonete e uma moto atrás de mim.

Continuei seguindo o professor Tan por trás, deixando uma distância de cerca de cinquenta a cem metros. O carro preto a minha frente andava a baixa velocidade. E eu me concentrei totalmente nele.

Então, o carro preto ligou a seta para a esquerda.

Olhei rapidamente para lugar aonde Tan estava prestes a entrar. A estrada principal possuía uma ruazinha secundária, onde mais à frente nela havia uma velha casa de madeira. Reduzi a velocidade do carro, estacionei no lado esquerdo da estrada e apaguei rapidamente os faróis. Olhei para dentro da rua secundária onde o professor Tan acabara de entrar, ela era pequena e escura, com poucas luzes acessas. O carro do professor estava estacionado com as luzes desligadas na frente da casa de madeira. O interior da habitação estava completamente escuro. Pude ver a sombra indistinta de uma longana (um tipo de árvore), que cobria parte da casa.

Tan mora aqui?

O dono da escola de tutoria mais grande dessa cidade não deveria viver nesse tipo de casa.

Decidi desligar o motor, logo sai do carro e fechei a porta devagar para não fazer um barulho alto. Adentrei lentamente a rua com cuidado. Sei que o que eu estou fazendo é perigoso, mas esta situação que estou enfrentando me obrigou a descobrir quem é o criminoso. Por isso, não tenho outra opção a não ser encontrar evidências que confirmem meu instinto. Estou em pé, enquanto olho a escura casa de madeira e não vejo nenhum sinal de outras pessoas. A porta dessa casa está oxidada, o muro é baixo, e não tem nenhum equipamento de segurança. Creio que posso entrar facilmente. Mas não penso em invadir a casa agora, voltarei de novo quando ele estiver no trabalho.

Assim que colhi informações suficientes das imediações, dei meia volta rapidamente para retornar ao meu carro. Dei apenas uns dois passos, quando ouvi um som que vinha da escuridão.

"Por quê está me seguindo?”

Dei a volta para olhar o dono da voz sair da área escura onde se escondia. Não perdi tempo para entender tudo que estava acontecendo e corri rapidamente para o meu carro que estava estacionado no começo da rua. Enquanto corria, ouvi os passos de alguém que corria atrás de mim, nesse momento, senti que meu coração estava quase saindo pela garganta. Em poucos metros, chegaria ao meu carro.

Então, um largo e forte braço me prendeu. A extrema força proveniente da pessoa atrás de mim nos fez cair rodando pelo chão. Tan terminou por cima de mim, e logo tratei de afastá-lo. Mas Tan agarrou meus pulsos, prendendo-os para que eu não conseguisse empurrá-lo.

"Me deixe ir!" Gritei tentando me afastar. Então, vi uma expressão de choque no rosto de Tan quando viu meu rosto.

"Senhor Policial!?" Ele imediatamente soltou meus pulsos e se levantou, "Não vi que era você. Você está bem?"

Me virei para o chão e apoiei meu corpo para levantar. A queda fez meu corpo inteiro doer e tenho arranhões nos braços. Tan logo se apressou para me ajudar a levantar, agarrando meu braço, mas eu afastei sua mão, recusando ajuda.

"Me desculpe, vi que um carro estava me seguindo e me assustei, então estacionei meu carro nesse lugar e vi que realmente tinha alguém me seguindo, mas não esperava que fosse você." Tan levantou ambas as mãos mostrando que sentia muito. Ele ainda estava arfando, sem fôlego.

Andei para trás com meu coração batendo forte, enquanto olhava para aquela figura alta, com cautela. Posso acreditar no que ele acabou de dizer?

"A polícia ainda acha sou eu quem matou a Jane, certo? Por isso enviaram um agente para me seguir. Já disse que não fui eu que fiz isso, naquela noite, eu estava em outro lugar, e um álibi confirmou isso. Tenho um amigo..."

"Você é o assassino." Eu disse antes de ele terminar suas palavras, e isso fez Tan ficar chocado.

"Não sou eu. Você está equivocado."

"Onde está o procurador?" Meus sentidos começaram a voltar. Tentei dizer muitas coisas para ver sua reação e apenas olhava a expressão dele nessa penumbra.

"Do que você está falando?" Tan franziu o rosto, "Tem algum problema, senhor policial?"

"Não sou um policial, sou um médico."

Tan arregalou os olhos, "Médico!?"

"Sou o médico forense que realizou a necropsia para o caso da srta. Janjira. Sou a primeira pessoa que soube que ela foi assassinada." A reação da pessoa a minha frente não foi a esperada, Tan estava surpreso com o que eu disse. "Você sabe disso. Perguntou à suas conexões na polícia sobre o resultado da necropsia. Então, assim que soube que eu coloquei a causa da morte como assassinato, me ameaçou para escrever um relatório falso para dizer que foi suicídio, para que conseguisse se safar." Continuei retrocedendo enquanto falava.

Tan ficou quieto e tenho certeza que o que eu disse provocou algo nele. Provavelmente, verei algumas ações que logo confirmarão meu instinto.

"Tem alguma prova que mostre que eu sou o assassino?" Tan franziu o rosto.

Honestamente, minha resposta é não. Não tenho nenhuma evidência que diga que Tan é o assassino — isso é apenas uma suposição baseada em meu instinto e nas estatísticas das mulheres em todo mundo que diz que a metade delas foram assassinadas por seus próprios namorados. Inclusive, há casos de assassinato que eu já investiguei similares a esse.

Decidi não dizer nada e rapidamente corri até meu carro. Escutei sua voz me chamando, mas não ligo para o que ele está dizendo e rapidamente me dirijo ao meu carro pelo lado do motorista, fechando a porta. Vi que Tan estava correndo e logo parou na frente do meu carro. Ao ver isso, dei ré e fui rapidamente para a estrada principal. Posso não ter a evidência agora, mas estou confiante de que, se Tan for o verdadeiro assassino, aparecer assim na frente dele vai deixar claro que eu não sou um idiota. Se ele pode me encontrar, eu também posso encontrá-lo.

Essa é a primeira vez que quero que o assassino venha até mim. Porque estou seguro de que, se o professor Tan é o assassino, eu serei capaz de reconhecê-lo rapidamente. Mas se Tan é inteligente, não se atreveria a me ameaçar ou me machucar de novo, porque acabaria dizendo quem ele é — e tiraria esse disfarce de herói.

Boa sorte em se encobrir quando a gente se encontrar de novo, Tan.

 

[...]

"Dr. Bunn!" P’Tik, uma enfermeira da sala de emergências, correu até mim — que entrava sem olhar para os lados, indo direto para a sala de exames Forense onde eu trabalho. Esta pequena sala só ocupa alguns metros quadrados da sala de emergências. Ainda que seja pequena, é melhor que nada, porque o exame forense deve ser feito em um espaço fechado em caso de que seja necessário tirar a roupa. Se o exame fosse feito no meio da sala de emergências, não seria algo bonito de se ver. "Doutor!"

"Quantos casos temos hoje?" Perguntei sem olhar a enfermeira que parece estar em pânico.

"Você está bem, doutor? Não estava com uma licença?" P'Tik se apressou e me parou antes de entrar na sala de exames. "Os doutores novatos podem fazer o trabalho."

"Não tem necessidade de incomodar os jovens. Eu posso fazer isso." Disse enquanto olhava a enfermeira de meia idade que estava na frente da porta da sala de exames.

"Mas o doutor teve alta do hospital ontem."

Suspirei um pouco antes de dar um falso sorriso para P'Tik, "E estou bem, linda pessoa."

Ontem à noite, quando voltei para o hotel, não consegui dormir nada. No final, terminei sentado no saguão até o relógio marcar uma hora. Então, decidi vim trabalhar hoje. Devido ao medo, acredito que é melhor ficar em um lugar onde tem muita gente ao redor, isto me fará se sentir seguro. Pode soar covarde, mas nessa situação, não quero estar sozinho. Já é bastante infeliz estar longe da minha família e não ter meus amigos agora. Hoje, foi provavelmente a primeira vez que senti que não queria que o trabalho terminasse e só desejava ficar no hospital por mais tempo.

Finalmente, vou conseguir realizar meu trabalho. Minha tarefa no momento é emitir documentação legal, que é principalmente um atestado médico. O atestado era principalmente para o seguro e, ocasionalmente, haverá alguns casos como agressão física ou abuso. Nesse tipo de caso, examinarei o corpo do paciente da cabeça até os pés para ver e comprovar se tem algum rastro de lesão, avaliando a violência, o tempo das lesões e o momento em que se formaram.

O primeiro paciente que veio é um menino alto com uma camiseta e calça curtas. Seu corpo estava cheio de hematomas ao redor de seu corpo. Com uma só olhada, já pude identificar que esse jovem devia ter feridas e hematomas de um acidente de trânsito. A enfermeira o colocou para sentar na cadeira redonda que estava no meio da sala, recebi a ficha do paciente e logo coloquei as luvas, enquanto a enfermeira abria a ferida para que eu visse.

"Khun Sorawit, certo?" Perguntei ao jovem, "Quantos anos você tem?"

"Dezoito."

"O que aconteceu? Em que dia? A que horas? Fale para mim."

"Eu estava dirigindo minha moto ontem à noite por volta de oito, nove horas. Havia um buraco na estrada que não consegui desviar. Caí, rolando pelo acostamento. Não estava dirigindo em alta velocidade."

Tive que tentar traduzir o dialeto um pouco. Os dois anos que fiquei nessa província, me deram a habilidade de entender algum dialeto mesmo que eu não conseguisse falar. Posso entender que esse menino estava dirigindo em uma moto e caiu na estrada.

"Você usava um capacete?" Perguntei em um dialeto do Norte com um sotaque de Bangkok.

"Não usei."

Anotei os detalhes numa tabela antes de tirar a sua roupa para checar as lesões dos pés à cabeça. Tinha cicatrizes espalhadas na cabeça, bochechas, no braço direito e no tornozelo, e não havia nenhuma ferida que me chamasse a atenção. Logo desenhei e escrevi as feridas no diagrama humano que me deram para anotar os lugares das feridas no corpo.

"Qual o seu nome, Doutor?" O jovem lançou-me um olhar brilhante, "Você é muito lindo, sabia?"

A enfermeira riu. Quanto a mim, não me interessa o que disse. Normalmente, seguiria o fluxo e responderia de forma bem-humorada a esse menino, mas agora, não estou com bom humor para fazer isso.

"Levante os braços assim." Levantei os braços com os cotovelos apontados para frente e as mãos dispostas atrás da cabeça para demonstração. O paciente me seguiu facilmente. Eu não esperava ver nenhuma outra ferida além de arranhões.

Hmm... na parte posterior do braço do jovem, há dois grandes rastros de hematomas que eram paralelos entre si com coloração diferente da do resto do corpo. Esses hematomas são causados por algum tipo de objeto longo em forma de taco. A posição é compatível às produzidas em situações de autodefesa. Imagine quando alguém tenta te golpear com um taco — automaticamente, você levanta o braço para se proteger. O resultado será um rastro de hematomas de defesa na parte interna do antebraço.

Esse menino não só teve problemas por cair da sua moto, também foi agredido fisicamente.

"Alguém te golpeou?" Perguntei ao jovem rapaz. Ele ficou assustado e entrou em pânico.

"...eu caí da moto." O jovem abaixou rapidamente os braços.

"Se você me dizer, não direi a ninguém." Utilizei um dos meus métodos para ludibriá-lo a me dizer a verdade.

O jovem duvidou antes de confessar: "Eu briguei com um grupo de criminosos antes de cair da moto."

"Está bem." Tirei as luvas e logo escrevi os detalhes na tabela adicional. "Você não denunciou, certo?"

"Não posso denunciar, não sou suficientemente valente para me meter em problemas com aquele grupo. Eu só queria obter um atestado médico e logo ir embora." Me respondeu e logo virou para me olhar: "Doutor, você é muito bom."

"Sim, logo emitirei o atestado médico, apenas espere lá fora." Me virei para olhar o jovem que me observava com expectativa, "Ohh... meu nome é Bunnakit. Se algo acontecer, venha me ver."

 

[...]

 

Passei duas horas examinado todos os pacientes. Depois de fazer meu trabalho, saí da sala de exames. Uma enfermeira veio me informar que havia um cadáver no hospital. Um cadáver que estava aguardando que eu lhe fizesse a necropsia no departamento forense, então lhe disse que primeiro iria comer e depois voltaria ao trabalho. Peguei o celular para uma checagem e não me surpreendi ao ver que ninguém havia me ligado, porque esse celular que eu estava usando agora não era meu.

"Doutor!" Uma voz familiar me chamou enquanto eu saía da sala de emergências. Me virei rapidamente para ver de onde essa voz em pânico vinha, então vi um homem alto caminhando até mim e seu rosto parecia nervoso.

Professor Tan!!

Meus pés automaticamente recuaram, enquanto olhava a pessoa que inesperadamente apareceu aqui. Meu coração batia forte devido ao medo crescente. Tan é o assassino, então claramente deve saber onde trabalho, mas não esperava que aparecesse, abertamente, sem se cobrir e sem medo.

"Vim para te ver e mostrar minha sinceridade quando digo que não fiz aquilo. Se o doutor estiver livre, podemos conversar?"

"Estou ocupado." Rapidamente me afastei, mas Tan ainda me seguia por trás insistentemente.

"Depois do que aconteceu ontem à noite, não tem nada a me dizer?" O professor Tan falou tão alto, que as enfermeiras e os pacientes da sala de emergência se voltaram para me olhar. "O que é que aconteceu? O que exatamente aconteceu com Jane? Tentei perguntar à polícia, mas eles não me deram resposta nenhuma." Ele gritou para mim.

Não respondi e me afastei rapidamente dessa área. Não vou me deixar ser enganado.... Me aproveitei da minha familiaridade com o caminho desse hospital. Caminhei entre as multidões, atravessando vários ângulos até que pude me afastar de Tan. Logo fui direto para o departamento forense e pensei em me esconder dentro do depósito de cadáveres por um tempo.

Vi que um homem estava sentado em uma cadeira do departamento forense. A pessoa se levantou rapidamente de seu assento no momento em que me viu. Quase gritei quando o vi — lá estava o Capitão M com seu uniforme. Ele se aproximou e me disse: "Por que não consegui te ligar? Perguntei para o pessoal aqui e só me deram seu antigo número."

"P'M!" Rapidamente fui até Ele. "Perdi meu celular."

O Capitã M suspirou um pouco e logo olhou a ferida na minha cabeça, "O que aconteceu?"

 

"......"

 

Esta é uma boa oportunidade, talvez, para dizer ao Capitão M. Eu deveria contar tudo? Se eu conto, o assassino vai saber? Se ele saber, o que vai acontecer? Posso confiar neste policial? Ele está do mesmo lado do assassino? Já não posso confiar em ninguém.

"Por que veio me ver?" Mudei rapidamente de tema.

"Duas razões. Uma, é porque não consigo te ligar e a segunda, é por causa do procurador..." Meu coração afundou quando escutei isso, "Estou levando este caso. Sabe disso, certo?"

Assenti com a cabeça. Logo o Capitão M continuou: "Doutor, você tem alguma pista? Porque posso ver que são bons amigos. Posso saber se ele tem algum conflito com alguém?"

Fiquei quieto por um tempo antes de sacudir a cabeça lentamente, "Não sei muito."

"Quando ficar livre, venha falar comigo na delegacia um pouco. Necessito te pedir seu número novo também."

Na verdade, não sabia o número desse celular. Por isso, pedi o número de celular do Capitão e logo fiz uma chamada perdida. Depois de trocar os números, o Capitão se foi. Me sentei na cadeira em frente ao departamento forense. Tudo é muito pesado para eu suportar sozinho.

Apesar de não confiar em ninguém, também queria que alguém me ajudasse, que soubesse o que estou passando. Queria que alguém me ajudasse a encontrar qualquer solução alternativa, e esse alguém seria Phud, mas ele já se foi. Olhei para o teto e pensei ‘Até agora a polícia ainda não conseguiu mais nenhuma outra prova? Existe algo nas câmeras de segurança ou tem alguma evidência que mostre que alguém veio matar a Janjira?’. Eu gostaria de fazer essas perguntas ao Capitão M, mas se eu pergunto, o que mais vai acontecer? Mais pessoas próximas a mim irão desaparecer?

Levantei minhas mãos para pressionar minhas têmporas, fechei os olhos e suspirei profundamente para deixar sair todas as tensões.

Então ouvi passos que se dirigiam a mim.

"Doutor..." No final, o professor Tan me encontrou.




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