Tradução: Wingrid
Revisão: Victor
Estacionei o
carro na beira da estrada assim que o grito da Prae soou.
“O que está
acontecendo?” Perguntei sem olhar para a garota sentada ao lado do motorista. Percebi
desde o início que Prae não estava bem. Ela ainda está vestida com seu uniforme
do banco porque acabei de buscá-la no trabalho. Ela ergueu as duas mãos e
cobriu o rosto enquanto soluçava. Eu apenas respirei fundo. “Prae?”
“Eu já sei de
tudo." Suas lindas lágrimas corriam pelo seu rosto, e, depois de me verem,
seus olhos se encheram de raiva.
Eu fiz uma
careta, “Você sabe o quê?"
“Por que você fez
isso? Quantas mulheres você enganou, Bunn? Você não se arrepende!?” Prae disse
em voz alta. Eu estava prestes a abrir minha boca para perguntar do que se
tratava, mas ela começou a falar novamente: “O que eu fiz de errado? Por que
você teve que mentir para mim!?”
“Espere! Do que
você está falando? Não estou entendendo você."
“O fato de você
na verdade ser gay! E de namorar mulheres apenas para disfarçar!”
Meu coração quase
parou de bater. Eu não sabia de onde ela havia descoberto isso, "O que
disse?"
“Sua ex-namorada
é minha amiga e, por acaso, essa amiga sabia que eu estava namorando você.
Então, ela tentou me avisar." Ela ergueu a mão para enxugar as lágrimas. Quanto
a mim, continuei tentando processar o que Prae acabara de dizer.
Minha
ex-namorada?
Desde que me
mudei para cá, estive envolvido com muitas pessoas. Mas, as únicas de quem estive
próximo, podendo chamá-las de namorada, foram a N'Kida, uma enfermeira do
pronto-socorro, e a Prae, que está sentada e chorando ao meu lado. Eu não acho
que N'Kida realmente saiba que eu sou gay. A razão pela qual eu terminei com ela
foi por causa de nossas personalidades diferentes e por ela dizer também que eu
era muito difícil de entender.
“Então, você acha
isso?" Meus olhos se fixaram na estrada, enquanto meu cérebro tentava
pensar quem teria sido a pessoa que contou a Prae.
Então, o nome de
uma pessoa apareceu de repente em minha mente, embora já tenham se passado mais
de dez anos.
Tar.
“Eu não quero
acreditar, mas todas as coisas que minha amiga me disse me deixaram insegura
sobre você."
Não respondi
nada. Eu deveria ter ficado surpreso com isso. Mas, surpreendentemente, meu
coração estava calmo. Eu não estava pensando em Prae, que estava chorando, mas
na pessoa que alegou ser minha ex e disse essas coisas sobre mim para ela.
Quando me mudei para trabalhar nesta região, pensei que poderia deixar tudo
para trás. Nunca pensei que meu passado viria me assombrar aqui.
“Eu não sou gay.
Mas, se você estiver desconfortável, podemos acabar com isso.” Quebrei o
silêncio e falei em voz alta. Prae se virou para olhar para mim com um olhar
perplexo antes de soltar um grito incontrolável.
“... Eu nunca
entendia no que você estava pensando...” Prae estava falando enquanto soluçava,
“Parece que você é uma pessoa cheia de segredos... então... pare de mentir para
mim... pare de mentir para as mulheres. Será que pode fazer isso? Pode prometer
que não fará isso de novo? Deixe-me ser a última mulher que você enganou."
Estendi a mão
para abrir a gaveta em frente ao banco do motorista, tirei um lenço de papel e
entreguei para Prae: “Desculpe.”
Acho que a
maneira como falei foi como se estivesse aceitando todas as acusações. Então,
ela pegou o lenço da minha mão para enxugar as lágrimas.
“Não me sinto bem
em continuarmos juntos."
“Eu sei”,
inclinei a cabeça para trás e me senti culpado por fazer uma mulher chorar.
Prae se virou para olhar para mim e riu.
“Bunn, você não parece
nem um pouco abalado.” Prae enxugou o nariz e olhou pela janela. “Você não
precisa vir me buscar amanhã."
“Estamos
realmente terminando por causa dos rumores que sua amiga disse?” Eu perguntei
apressadamente.
“Esse é um dos
motivos. O outro motivo é porque acho que não podemos ficar juntos, você tem
seu próprio mundo onde as pessoas não podem chegar até você. E eu também não
sabia como chegar lá. Não quero continuar nessa situação desconfortável.” Prae
tirou o colar que eu lhe dera no nosso sexto mês de aniversário, pegou a minha
mão e cuidadosamente colocou o colar de prata sobre ela.
Eu segurei o
colar com força enquanto olhava para minhas próprias mãos com uma sensação de
vazio. Uma mulher me deixou novamente. É como uma maldição desde o dia em que
terminei com Tar.
O que fiz a
seguir, assim que cheguei em casa, foi tentar encontrar uma maneira de entrar
em contato com a pessoa que poderia ser a causa do rompimento entre Prae e eu.
Não o vejo desde os nossos tempos de faculdade. Hoje, encontrar uma forma de
contatar alguém não é tão difícil. Mas, infelizmente, eu estava no final da
adolescência, em uma época em que os celulares não eram dispositivos necessários,
e a internet não era tão famosa. Agora, não tenho como entrar em contato com
Tar.
A única coisa que
posso fazer agora é digitar o nome na caixa de pesquisa. Ainda me lembro de que
o nome verdadeiro de Tar é Natdanai. Tentei pesquisar pessoas com o nome
Natdanai em tailandês e inglês no Facebook. Passei horas procurando por ele,
mas não vi o Natdanai que eu queria. No final, eu desisti. Mesmo que eu
encontrasse maneiras de falar com Tar... ou que descobrisse que ele sabia sobre
meu relacionamento com Prae... ou ainda que descobrisse se ele permanece ou não
bravo comigo por causa do que aconteceu no passado... nada disso mudaria o fato
de que Prae e eu terminamos.
Então, eu decidi
deixar passar. E isso também é bom, porque uma boa mulher finalmente se libertou
de um homem como eu. Ela poderá conhecer alguém novo que seja a pessoa certa e
que a ame de verdade.
[FIM DE
FLASHBACK]
***
“As artérias
coronárias estavam bloqueadas." Eu olhei para o coração humano que foi
cortado em várias partes na tábua de corte. As veias do coração falecido
estavam 100% contraídas, o que se tornou a principal causa da parada cardíaca e
da morte da pessoa no hospital.
É meu dever
encontrar a causa da morte em caso de uma morte não natural. O falecido era um
homem idoso que não respondeu ao ser acordado pela manhã, enquanto estava na
enfermaria especial do hospital. Ele estava recebendo RCP por cerca de 30
minutos antes de seus familiares decidirem encerrar o procedimento. E então,
seu corpo foi enviado para nós para ser feita uma necropsia para determinar sua
verdadeira causa da morte. Tirei a luva e o casaco e emiti a certidão de óbito.
“O Dr. Bunn não
parece bem hoje." P'Anan, um homem de meia idade que é minha mão direita,
entrou.
“Sim.” Respondi:
“Comi muito na hora do almoço, agora estou com muito sono.”
P’Anan riu um
pouco, “Este médico pode fazer piadas apesar de estar de mau humor. Não quero
incomodar você, doutor, melhor eu me apressar para cuidar do corpo e voltar
para a casa logo. Estou com muitas saudades da minha esposa." P'Anan,
então, caminhou até o cadáver do velho que estava deitado na cama de aço.
Logo sai do
departamento forense depois de fazer meu trabalho. Olhei a cadeira onde me
sentei hoje mais cedo e me lembrei das palavras da pessoa que se aproximou de
mim quando eu estava sentado nela.
“O que eu tenho
que fazer para você acreditar em mim?” Tan
disse enquanto se sentava em uma cadeira ao meu lado. Ele ainda usava uma
camisa preta que lembrava a de ontem. “Que horas terminará seu trabalho? Eu
venho para cá e te levo para comer.”
Fiquei surpreso
com seu convite. Não dei uma resposta ao Professor Tan, mas ele adivinhou que
eu estaria fazendo meu trabalho durante o horário normal e me disse que viria
me buscar às 16h30. Enquanto esperava eu terminar meu trabalho, ele foi ajudar
no funeral da srta. Janjira no templo localizado não muito longe do hospital.
“Eu te imploro,
eu realmente quero falar com você."
De jeito nenhum
vou a algum lugar com um assassino. Se eu me envolver com ele, posso acabar
sendo morto.
Meus passos
pararam quando pensei neste ponto. Não... Eu não deveria ter medo de que o
assassino pudesse me matar agora. Ele não vai me matar, porque ainda não
entreguei o relatório da necropsia à polícia. Além de me matar, Tan também não
pode me machucar de novo, porque se ele fizer isso, imediatamente pegarei Tan
como o assassino. Portanto, acho que devo aproveitar esta oportunidade para
abordá-lo e encontrar as evidências que o ligam ao crime.
Decidi voltar e
ficar na frente do departamento forense. Acho que deveria ter algo comigo para
me proteger, para que eu possa me sentir mais tranquilo. Voltei ao necrotério e
secretamente peguei um bisturi e coloquei no bolso sem deixar P’Anan ver.
P’Anan ficará frenético se descobrir que uma lâmina cirúrgica está faltando,
mas eu realmente precisava disso.
Quando voltei
para a porta, vi que tinha um homem alto de camisa preta. Olhei para a cara do
Professor Tan, tentando conter meus sentimentos de querer estrangular seu
pescoço para saber a verdade sobre ele.
Seu rosto mostra
que ele estava aliviado ao me ver, “Obrigado por ter concordado em me
acompanhar.”
“Para onde
vamos?” Eu perguntei em voz hostil.
“A qualquer lugar
onde possamos sentar e conversar. Você escolhe, porque provavelmente não
confiará em mim se eu escolher o lugar."
Fiquei pensando
por um momento: “Então, vamos usar meu caro. Se você recusar, não vou falar com
você."
Tan ficou em
silêncio por um tempo antes de sorrir francamente, "Faremos o que você disser,
doutor."
***
Fui a um
restaurante não muito longe do hospital. É um dos restaurantes típicos da
cozinha do Norte mais famosos desta província. Escolhi esse local por este estar
sempre cheio de pessoas e estrangeiros, o que me deixa mais seguro. Estacionei
em frente ao estabelecimento.
Notei que Tan
estava constantemente olhando para mim no caminho para cá. Ele e eu não
conversamos muito. Talvez ele quisesse poupar a conversa para quando
chegássemos ao nosso destino.
A garçonete levou
Tan e eu para sentarmos a uma mesa para dois, e assim que me sentei na cadeira,
rapidamente comecei o assunto, “Sobre o que você quer conversar?"
Tan, que estava
quase abrindo o menu, parou um pouco, “O doutor pode comer Laab-neua, certo?"
Não era isso que
eu queria ouvir. Mostrei-lhe uma expressão de desagrado. "Não faça
rodeios."
“Tenho certeza de
que se deixarmos a mesa vazia, não seria bom. Portanto, gostaria de pedir um
pouco de comida para você." Tan levantou a mão para chamar a garçonete e
pediu três pratos locais. “O doutor quer comer arroz doce ou arroz cozido no
vapor?"
Suspirei, “Arroz
cozido no vapor.”
“Eu quero um
arroz cozido e um Laab-neua, mas não muito picante." Tan fala fluentemente
o dialeto com a garçonete antes de devolver o menu para ela.
A primeira coisa
que aprendi sobre o professor Tan depois de conhecê-lo cara a cara é que... Tan
é um nativo daqui.
“O que você quer
beber?"
“Vou querer uma água."
Tan olhou para mim: "O doutor quer suco ou algo assim?”
“Somente
água." Continuei observando o comportamento de Tan, sem deixar nada fora
da minha vista. Depois de terminar o pedido, Tan se virou para mim, e suas duas
mãos foram postas sobre a mesa. Seu rosto parecia frio e calmo.
“Estou pronto.”
Tan falou comigo, enquanto eu estava sério: “O que você disse ontem à noite é
verdade?"
“O que você
acha?” Devolvi-lhe uma pergunta para evitar responder a dele.
Tan ficou
perplexo ao ouvir minha resposta: “O que devo pensar? .... Você provavelmente
não é do tipo de pessoa que inventaria uma história dessas para me enganar e
brincar comigo, não é? Eu acho que foi ameaçado, por isso tentou encontrar o
culpado sozinho.” Tan fez uma pausa, “Eu queria falar contigo pelo fato de você
suspeitar que eu seja o assassino. Quero confirmar minha inocência antes que
seja tarde demais.”
Eu fiz uma
careta, “Tarde demais? O que você quer dizer?”
“Antes de você
correr para a polícia e informá-la de que sou um assassino, embora eu não tenha
feito isso, e minha vida virar uma bagunça. Além disso, você é um grande nome
na polícia. Eles vão acreditar em você, e eu terei problemas...” Tan parou de
falar quando a garçonete veio nos servir água. Quando ela saiu, ele continuou:
"Hoje, tenho dois objetivos: um, confirmar minha inocência e dois, eu
quero te ajudar a encontrar o verdadeiro culpado. Se Jane foi realmente
assassinada e a polícia está envolvida, fazendo com que o caso não prossiga,
então eu queria ajudá-lo."
Essa é
provavelmente a vantagem de ser professor. Tan é um homem que fala fluentemente
e parece confiável, mas eu não confio na pessoa à minha frente de qualquer
maneira, "Como você pode provar que não foi você?"
“Álibi." Tan
pegou o telefone e procurou algo. "Na noite de 10 de dezembro, tive uma
aula. Depois, das 19h às 23h, estive no casamento do meu amigo no Erawan Hotel.
As pessoas me viram lá e centenas de pessoas estavam naquele evento.” Tan pegou
um lenço de papel e escreveu três números de telefone: "Bebemos até 2h da
manhã e então nós quatro decidimos dormir na casa dessa pessoa." Ele
apontou para o primeiro número que escreveu e me passou o papel: "Ligue
para eles. Todos podem confirmar que eu estava com eles. Depois disso, acordei
às 10h da manhã e liguei para Jane, mas ninguém atendeu. Fiquei muito
preocupado também. Fui procurá-la na casa dela. Fiquei um tempão batendo na
porta, mas não tive resposta. Fiquei com medo de que ela se suicidasse por
causa da depressão. Então, corri com o segurança para abrir a porta, e tudo
estava como você viu."
O que ele me
disse é exatamente a informação que recebi do Capitão M. Então, olhei para os
três números.
“O que você acha,
doutor? A hora da morte de Jane bate com o horário em que eu não tive nenhum
álibi?”
Estimei que a
hora da morte de Janjira foi entre 1h e 5h do dia 11 de dezembro, na hora em
que ele saiu para beber com os amigos e dormiu na casa de um deles. “Eu quero
ligar para seus amigos primeiro.”
Me levantei da
cadeira e peguei o lenço que ele me deu e liguei para as pessoas que ele disse
ter ficado a noite toda. Todos os três homens fizeram a mesma declaração,
insistindo que Tan estava com eles. Então, me sentei à mesa novamente, confuso.
A comida que pedimos foi totalmente servida.
“E aí?"
“Você não se
comunicou com seus amigos, não é?"
Tan riu um pouco,
deixando-me irritado, “Você é muito difícil de convencer. Mas, eu entendo que,
se eu fosse você, seria assim também."
Eu expirei para
deixar minha frustação escapar. Há quanto tempo eu não revelo esse tipo de
emoção na frente de outras pessoas? Sinceramente, não posso mais segurar.
"Ok, eu acredito em você."
Tan sorriu de
alívio, “Olhando para o seu rosto, você ainda não parece acreditar em mim, mas
me sinto um pouco melhor." Tan pegou o arroz e colocou no meu prato.
“Para você.”
Por que Tan está
fazendo isso? Ele achou que eu ficaria impressionado se ele me desse um pouco
de sua comida? Ele me via como uma mulher?
“Então, o que
houve com a sua testa? Foi obra do agressor... ou foi apenas um acidente?” Tan
perguntou enquanto levava sua comida à boca.
“Como conseguiu
essa lesão na testa?” Eu perguntei a ele de volta. O hematoma em sua têmpora
começava a ficar verde, o que é normal.
Tan congelou um
pouco e, então, ergueu a mão e tocou a testa. “Caí de uma motocicleta e não tinha
colocado o capacete. Não achei que seria sério, então não fui ao médico."
“Eu nunca vi você
andando de moto." E não via nenhum ferimento que mostrasse que ele estava
envolvido em um acidente de carro.
“Ontem eu estava
andando de moto.” Tan ainda parece calmo. “Mas eu não sei o seu nome ainda. Ou
você quer que eu te chame apenas de doutor?" Ele mudou rapidamente de
assunto.
Ainda não consigo
confiar nele por causa do ferimento em sua testa. Mas ele provavelmente não vai
contar, então eu só tenho que esperar que ele faça qualquer ato suspeito,
“Bunnakit.”
“Ok, Dr.
Bunnakit. Sou Tan, mas provavelmente você já sabe." Ele, então, colocou os
talhares no prato e, por eu estar distraído, deslizou suas mãos para segurar a
minha que estava sobre a mesa, "Deixe-me ajudá-lo a encontrar o assassino,
Doutor."
E isso é o que
aconteceu: meu coração batia forte e sem motivo. Retirei rapidamente minha mão.
Meu coração sempre ficava desse jeito toda vez que eu me encontrava com o
professor Tan. Na primeira vez, pensei que era por causa da emoção de investigar
um caso de assassinato. Na segunda vez, na escola de tutoria, pensei que meu
coração estava batendo forte por causa do medo.
Desta vez, talvez seja medo também.
aaaa, não acredito que o Bunn vai cair nessa, mdsssss
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