sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Manner of Death - Capítulo 7 - Medo

 


Tradução: Wingrid

Revisão: Victor

- Equipe KhunPandex Traduções

 [FLASHBACK]

Estacionei o carro na beira da estrada assim que o grito da Prae soou.

“O que está acontecendo?” Perguntei sem olhar para a garota sentada ao lado do motorista. Percebi desde o início que Prae não estava bem. Ela ainda está vestida com seu uniforme do banco porque acabei de buscá-la no trabalho. Ela ergueu as duas mãos e cobriu o rosto enquanto soluçava. Eu apenas respirei fundo. “Prae?”

“Eu já sei de tudo." Suas lindas lágrimas corriam pelo seu rosto, e, depois de me verem, seus olhos se encheram de raiva.

Eu fiz uma careta, “Você sabe o quê?"

“Por que você fez isso? Quantas mulheres você enganou, Bunn? Você não se arrepende!?” Prae disse em voz alta. Eu estava prestes a abrir minha boca para perguntar do que se tratava, mas ela começou a falar novamente: “O que eu fiz de errado? Por que você teve que mentir para mim!?”

“Espere! Do que você está falando? Não estou entendendo você."

“O fato de você na verdade ser gay! E de namorar mulheres apenas para disfarçar!”

Meu coração quase parou de bater. Eu não sabia de onde ela havia descoberto isso, "O que disse?"

“Sua ex-namorada é minha amiga e, por acaso, essa amiga sabia que eu estava namorando você. Então, ela tentou me avisar." Ela ergueu a mão para enxugar as lágrimas. Quanto a mim, continuei tentando processar o que Prae acabara de dizer.

Minha ex-namorada?

Desde que me mudei para cá, estive envolvido com muitas pessoas. Mas, as únicas de quem estive próximo, podendo chamá-las de namorada, foram a N'Kida, uma enfermeira do pronto-socorro, e a Prae, que está sentada e chorando ao meu lado. Eu não acho que N'Kida realmente saiba que eu sou gay. A razão pela qual eu terminei com ela foi por causa de nossas personalidades diferentes e por ela dizer também que eu era muito difícil de entender.

“Então, você acha isso?" Meus olhos se fixaram na estrada, enquanto meu cérebro tentava pensar quem teria sido a pessoa que contou a Prae.

Então, o nome de uma pessoa apareceu de repente em minha mente, embora já tenham se passado mais de dez anos.

Tar.

“Eu não quero acreditar, mas todas as coisas que minha amiga me disse me deixaram insegura sobre você."

Não respondi nada. Eu deveria ter ficado surpreso com isso. Mas, surpreendentemente, meu coração estava calmo. Eu não estava pensando em Prae, que estava chorando, mas na pessoa que alegou ser minha ex e disse essas coisas sobre mim para ela. Quando me mudei para trabalhar nesta região, pensei que poderia deixar tudo para trás. Nunca pensei que meu passado viria me assombrar aqui.

“Eu não sou gay. Mas, se você estiver desconfortável, podemos acabar com isso.” Quebrei o silêncio e falei em voz alta. Prae se virou para olhar para mim com um olhar perplexo antes de soltar um grito incontrolável.

“... Eu nunca entendia no que você estava pensando...” Prae estava falando enquanto soluçava, “Parece que você é uma pessoa cheia de segredos... então... pare de mentir para mim... pare de mentir para as mulheres. Será que pode fazer isso? Pode prometer que não fará isso de novo? Deixe-me ser a última mulher que você enganou."

Estendi a mão para abrir a gaveta em frente ao banco do motorista, tirei um lenço de papel e entreguei para Prae: “Desculpe.”

Acho que a maneira como falei foi como se estivesse aceitando todas as acusações. Então, ela pegou o lenço da minha mão para enxugar as lágrimas.

“Não me sinto bem em continuarmos juntos."

“Eu sei”, inclinei a cabeça para trás e me senti culpado por fazer uma mulher chorar. Prae se virou para olhar para mim e riu.

“Bunn, você não parece nem um pouco abalado.” Prae enxugou o nariz e olhou pela janela. “Você não precisa vir me buscar amanhã."

“Estamos realmente terminando por causa dos rumores que sua amiga disse?” Eu perguntei apressadamente.

“Esse é um dos motivos. O outro motivo é porque acho que não podemos ficar juntos, você tem seu próprio mundo onde as pessoas não podem chegar até você. E eu também não sabia como chegar lá. Não quero continuar nessa situação desconfortável.” Prae tirou o colar que eu lhe dera no nosso sexto mês de aniversário, pegou a minha mão e cuidadosamente colocou o colar de prata sobre ela.

Eu segurei o colar com força enquanto olhava para minhas próprias mãos com uma sensação de vazio. Uma mulher me deixou novamente. É como uma maldição desde o dia em que terminei com Tar.

O que fiz a seguir, assim que cheguei em casa, foi tentar encontrar uma maneira de entrar em contato com a pessoa que poderia ser a causa do rompimento entre Prae e eu. Não o vejo desde os nossos tempos de faculdade. Hoje, encontrar uma forma de contatar alguém não é tão difícil. Mas, infelizmente, eu estava no final da adolescência, em uma época em que os celulares não eram dispositivos necessários, e a internet não era tão famosa. Agora, não tenho como entrar em contato com Tar.

A única coisa que posso fazer agora é digitar o nome na caixa de pesquisa. Ainda me lembro de que o nome verdadeiro de Tar é Natdanai. Tentei pesquisar pessoas com o nome Natdanai em tailandês e inglês no Facebook. Passei horas procurando por ele, mas não vi o Natdanai que eu queria. No final, eu desisti. Mesmo que eu encontrasse maneiras de falar com Tar... ou que descobrisse que ele sabia sobre meu relacionamento com Prae... ou ainda que descobrisse se ele permanece ou não bravo comigo por causa do que aconteceu no passado... nada disso mudaria o fato de que Prae e eu terminamos.

Então, eu decidi deixar passar. E isso também é bom, porque uma boa mulher finalmente se libertou de um homem como eu. Ela poderá conhecer alguém novo que seja a pessoa certa e que a ame de verdade.

[FIM DE FLASHBACK]

 

***

 

“As artérias coronárias estavam bloqueadas." Eu olhei para o coração humano que foi cortado em várias partes na tábua de corte. As veias do coração falecido estavam 100% contraídas, o que se tornou a principal causa da parada cardíaca e da morte da pessoa no hospital.

É meu dever encontrar a causa da morte em caso de uma morte não natural. O falecido era um homem idoso que não respondeu ao ser acordado pela manhã, enquanto estava na enfermaria especial do hospital. Ele estava recebendo RCP por cerca de 30 minutos antes de seus familiares decidirem encerrar o procedimento. E então, seu corpo foi enviado para nós para ser feita uma necropsia para determinar sua verdadeira causa da morte. Tirei a luva e o casaco e emiti a certidão de óbito.

“O Dr. Bunn não parece bem hoje." P'Anan, um homem de meia idade que é minha mão direita, entrou.

“Sim.” Respondi: “Comi muito na hora do almoço, agora estou com muito sono.”

P’Anan riu um pouco, “Este médico pode fazer piadas apesar de estar de mau humor. Não quero incomodar você, doutor, melhor eu me apressar para cuidar do corpo e voltar para a casa logo. Estou com muitas saudades da minha esposa." P'Anan, então, caminhou até o cadáver do velho que estava deitado na cama de aço.

Logo sai do departamento forense depois de fazer meu trabalho. Olhei a cadeira onde me sentei hoje mais cedo e me lembrei das palavras da pessoa que se aproximou de mim quando eu estava sentado nela.

“O que eu tenho que fazer para você acreditar em mim?” Tan disse enquanto se sentava em uma cadeira ao meu lado. Ele ainda usava uma camisa preta que lembrava a de ontem. “Que horas terminará seu trabalho? Eu venho para cá e te levo para comer.”

Fiquei surpreso com seu convite. Não dei uma resposta ao Professor Tan, mas ele adivinhou que eu estaria fazendo meu trabalho durante o horário normal e me disse que viria me buscar às 16h30. Enquanto esperava eu terminar meu trabalho, ele foi ajudar no funeral da srta. Janjira no templo localizado não muito longe do hospital.

“Eu te imploro, eu realmente quero falar com você."

De jeito nenhum vou a algum lugar com um assassino. Se eu me envolver com ele, posso acabar sendo morto.

Meus passos pararam quando pensei neste ponto. Não... Eu não deveria ter medo de que o assassino pudesse me matar agora. Ele não vai me matar, porque ainda não entreguei o relatório da necropsia à polícia. Além de me matar, Tan também não pode me machucar de novo, porque se ele fizer isso, imediatamente pegarei Tan como o assassino. Portanto, acho que devo aproveitar esta oportunidade para abordá-lo e encontrar as evidências que o ligam ao crime.

Decidi voltar e ficar na frente do departamento forense. Acho que deveria ter algo comigo para me proteger, para que eu possa me sentir mais tranquilo. Voltei ao necrotério e secretamente peguei um bisturi e coloquei no bolso sem deixar P’Anan ver. P’Anan ficará frenético se descobrir que uma lâmina cirúrgica está faltando, mas eu realmente precisava disso.

Quando voltei para a porta, vi que tinha um homem alto de camisa preta. Olhei para a cara do Professor Tan, tentando conter meus sentimentos de querer estrangular seu pescoço para saber a verdade sobre ele.

Seu rosto mostra que ele estava aliviado ao me ver, “Obrigado por ter concordado em me acompanhar.”

“Para onde vamos?” Eu perguntei em voz hostil.

“A qualquer lugar onde possamos sentar e conversar. Você escolhe, porque provavelmente não confiará em mim se eu escolher o lugar."

Fiquei pensando por um momento: “Então, vamos usar meu caro. Se você recusar, não vou falar com você."

Tan ficou em silêncio por um tempo antes de sorrir francamente, "Faremos o que você disser, doutor."

 

***

 

Fui a um restaurante não muito longe do hospital. É um dos restaurantes típicos da cozinha do Norte mais famosos desta província. Escolhi esse local por este estar sempre cheio de pessoas e estrangeiros, o que me deixa mais seguro. Estacionei em frente ao estabelecimento.

Notei que Tan estava constantemente olhando para mim no caminho para cá. Ele e eu não conversamos muito. Talvez ele quisesse poupar a conversa para quando chegássemos ao nosso destino.

A garçonete levou Tan e eu para sentarmos a uma mesa para dois, e assim que me sentei na cadeira, rapidamente comecei o assunto, “Sobre o que você quer conversar?"

Tan, que estava quase abrindo o menu, parou um pouco, “O doutor pode comer Laab-neua, certo?"

Não era isso que eu queria ouvir. Mostrei-lhe uma expressão de desagrado. "Não faça rodeios."

“Tenho certeza de que se deixarmos a mesa vazia, não seria bom. Portanto, gostaria de pedir um pouco de comida para você." Tan levantou a mão para chamar a garçonete e pediu três pratos locais. “O doutor quer comer arroz doce ou arroz cozido no vapor?"

Suspirei, “Arroz cozido no vapor.”

“Eu quero um arroz cozido e um Laab-neua, mas não muito picante." Tan fala fluentemente o dialeto com a garçonete antes de devolver o menu para ela.

A primeira coisa que aprendi sobre o professor Tan depois de conhecê-lo cara a cara é que... Tan é um nativo daqui.

“O que você quer beber?"

“Vou querer uma água." Tan olhou para mim: "O doutor quer suco ou algo assim?”

“Somente água." Continuei observando o comportamento de Tan, sem deixar nada fora da minha vista. Depois de terminar o pedido, Tan se virou para mim, e suas duas mãos foram postas sobre a mesa. Seu rosto parecia frio e calmo.

“Estou pronto.” Tan falou comigo, enquanto eu estava sério: “O que você disse ontem à noite é verdade?"

“O que você acha?” Devolvi-lhe uma pergunta para evitar responder a dele.

Tan ficou perplexo ao ouvir minha resposta: “O que devo pensar? .... Você provavelmente não é do tipo de pessoa que inventaria uma história dessas para me enganar e brincar comigo, não é? Eu acho que foi ameaçado, por isso tentou encontrar o culpado sozinho.” Tan fez uma pausa, “Eu queria falar contigo pelo fato de você suspeitar que eu seja o assassino. Quero confirmar minha inocência antes que seja tarde demais.”

Eu fiz uma careta, “Tarde demais? O que você quer dizer?”

“Antes de você correr para a polícia e informá-la de que sou um assassino, embora eu não tenha feito isso, e minha vida virar uma bagunça. Além disso, você é um grande nome na polícia. Eles vão acreditar em você, e eu terei problemas...” Tan parou de falar quando a garçonete veio nos servir água. Quando ela saiu, ele continuou: "Hoje, tenho dois objetivos: um, confirmar minha inocência e dois, eu quero te ajudar a encontrar o verdadeiro culpado. Se Jane foi realmente assassinada e a polícia está envolvida, fazendo com que o caso não prossiga, então eu queria ajudá-lo."

Essa é provavelmente a vantagem de ser professor. Tan é um homem que fala fluentemente e parece confiável, mas eu não confio na pessoa à minha frente de qualquer maneira, "Como você pode provar que não foi você?"

“Álibi." Tan pegou o telefone e procurou algo. "Na noite de 10 de dezembro, tive uma aula. Depois, das 19h às 23h, estive no casamento do meu amigo no Erawan Hotel. As pessoas me viram lá e centenas de pessoas estavam naquele evento.” Tan pegou um lenço de papel e escreveu três números de telefone: "Bebemos até 2h da manhã e então nós quatro decidimos dormir na casa dessa pessoa." Ele apontou para o primeiro número que escreveu e me passou o papel: "Ligue para eles. Todos podem confirmar que eu estava com eles. Depois disso, acordei às 10h da manhã e liguei para Jane, mas ninguém atendeu. Fiquei muito preocupado também. Fui procurá-la na casa dela. Fiquei um tempão batendo na porta, mas não tive resposta. Fiquei com medo de que ela se suicidasse por causa da depressão. Então, corri com o segurança para abrir a porta, e tudo estava como você viu."

O que ele me disse é exatamente a informação que recebi do Capitão M. Então, olhei para os três números.

“O que você acha, doutor? A hora da morte de Jane bate com o horário em que eu não tive nenhum álibi?”

Estimei que a hora da morte de Janjira foi entre 1h e 5h do dia 11 de dezembro, na hora em que ele saiu para beber com os amigos e dormiu na casa de um deles. “Eu quero ligar para seus amigos primeiro.”

Me levantei da cadeira e peguei o lenço que ele me deu e liguei para as pessoas que ele disse ter ficado a noite toda. Todos os três homens fizeram a mesma declaração, insistindo que Tan estava com eles. Então, me sentei à mesa novamente, confuso. A comida que pedimos foi totalmente servida.

“E aí?"

“Você não se comunicou com seus amigos, não é?"

Tan riu um pouco, deixando-me irritado, “Você é muito difícil de convencer. Mas, eu entendo que, se eu fosse você, seria assim também."

Eu expirei para deixar minha frustação escapar. Há quanto tempo eu não revelo esse tipo de emoção na frente de outras pessoas? Sinceramente, não posso mais segurar. "Ok, eu acredito em você."

Tan sorriu de alívio, “Olhando para o seu rosto, você ainda não parece acreditar em mim, mas me sinto um pouco melhor." Tan pegou o arroz e colocou no meu prato.

“Para você.”

Por que Tan está fazendo isso? Ele achou que eu ficaria impressionado se ele me desse um pouco de sua comida? Ele me via como uma mulher?

“Então, o que houve com a sua testa? Foi obra do agressor... ou foi apenas um acidente?” Tan perguntou enquanto levava sua comida à boca.

“Como conseguiu essa lesão na testa?” Eu perguntei a ele de volta. O hematoma em sua têmpora começava a ficar verde, o que é normal.

Tan congelou um pouco e, então, ergueu a mão e tocou a testa. “Caí de uma motocicleta e não tinha colocado o capacete. Não achei que seria sério, então não fui ao médico."

“Eu nunca vi você andando de moto." E não via nenhum ferimento que mostrasse que ele estava envolvido em um acidente de carro.

“Ontem eu estava andando de moto.” Tan ainda parece calmo. “Mas eu não sei o seu nome ainda. Ou você quer que eu te chame apenas de doutor?" Ele mudou rapidamente de assunto.

Ainda não consigo confiar nele por causa do ferimento em sua testa. Mas ele provavelmente não vai contar, então eu só tenho que esperar que ele faça qualquer ato suspeito, “Bunnakit.”

“Ok, Dr. Bunnakit. Sou Tan, mas provavelmente você já sabe." Ele, então, colocou os talhares no prato e, por eu estar distraído, deslizou suas mãos para segurar a minha que estava sobre a mesa, "Deixe-me ajudá-lo a encontrar o assassino, Doutor."

E isso é o que aconteceu: meu coração batia forte e sem motivo. Retirei rapidamente minha mão. Meu coração sempre ficava desse jeito toda vez que eu me encontrava com o professor Tan. Na primeira vez, pensei que era por causa da emoção de investigar um caso de assassinato. Na segunda vez, na escola de tutoria, pensei que meu coração estava batendo forte por causa do medo.

Desta vez, talvez seja medo também.


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