quinta-feira, 16 de abril de 2020

Oxygen 2 - Capítulo 8




Créditos inglês: Houzini
Tradução: Katiane
Revisão: Thais
- Equipe KhunPandex Traduções.


 
Eu passei a maior parte do meu tempo aqui ensinando as crianças. O primeiro dia foi um pouco difícil para nós três, porque não sabíamos por onde começar. Mas, depois de três dias, nós começamos e nos acostumar. Nós ajudamos uns aos outros a ensinar matérias diferentes, sendo a maioria sobre linguagem e coisas que podemos aplicar na nossa vida real. E agora, já faz uma semana que estou aqui.
“Professor, quando é o momento certo da gente usar o inglês?”
Solo estava fazendo uma cara pensativa enquanto ouvia a pergunta do Nong Sao. Mas, então, Khun Jay respondeu no lugar dele.
“Um dia, quando turistas vierem para cá. Quando esse dia chegar, todos vocês devem ajudar seus pais a falar com os turistas.”
“Turistas não falam tailandês?”
“Turistas vêm de diferentes lugares. E a língua inglesa que nós estamos estudando é uma linguagem universal, que é usada por muitos países...” Khun Jay respondeu calmamente. Mas levou um tempo para explicar para as crianças até elas entenderem.
“Vamos fazer uma pausa, crianças. Não se esqueçam de cuidar dos seus próprios vegetais.” Eu queria distraí-los da pergunta deles. Khun Jay suspirou aliviado e, depois, se virou e acenou para mim, como um agradecimento.
A sala de aula das crianças era feita de bambu que os aldeões ajudaram a construir, e não tinha cadeiras. Havia apenas dez mesas em pares feitas de bambu. Era localizada no alto da colina, não muito longe da horta. Portanto, quando eu disse que era hora do intervalo, eles correram para a horta e, cuidadosamente, tomavam conta dos vegetais. Eu fiquei feliz quando vi o que elas faziam...
Se quisesse tomar conta de alguma coisa, a pessoa deve começar cuidando das pequenas coisas que estavam perto dela... Assim como Mae Yai costumava dizer.
“Eles aprendem rápido.” Khun Jay disse enquanto se aproximava de mim, mas seus olhos estavam nas crianças.
“Sim... Se tivessem uma boa oportunidade, seriam excelentes e muito habilidosas.”
Mas eu não sabia como ajudá-las, já que iríamos embora daqui em breve.
“Guitar... Toma conta das crianças. Vou sair com o Jay rapidinho.”
Eu me virei e acenei para Solo. Nesses últimos dois anos, toda vez que era hora do intervalo, ele e Khun Jay iam ver a Tia Jit. Quando eu indaguei sobre isso, ele disse que iam conversar sobre negócios, coisas que eu não entenderia. Ele também disse que, uma vez que tudo estivesse completo, ele me explicaria. Só de saber que ele tinha grandes esperanças para esse lugar já me deixava muito feliz. Eu provavelmente não entenderia nada agora, e o rude também disse que ele deveria lidar com essas questões sozinho.
Eu sabia que Solo queria que eu descansasse e não pensasse muito. Por isso, eu não queria recusar suas boas intenções. Eu só esperei até que ele estivesse pronto para me contar.
Eu segui as crianças até a horta. Depois de checar meus próprios vegetais, eu fui até Nong Moon, que estava agachado, com um sorriso largo, sem se importar em brincar com as outras crianças.
“Nong Moon, o que você está fazendo?”
“Estou fazendo uma placa. Sua mãozinha apontava para sua própria horta. Em cima dela, tinha papel cortado em forma de círculo e pintado de amarelo. A placa dizia: ‘propriedade do Nong Moon.’
Na verdade, um desenho da lua.
“Mas Nong Moon não pode colocar a placa aqui desse jeito.” Eu ri e depois removi o papel que tinha sido enrolado em plástico à prova d’água. “Se o Nong Moon colocar isso em cima dos seus vegetais assim, desse jeito, como eles vão crescer?”
“Verdade!!!” Nong Moon deu um sorriso tão largo, que suas bochechas ficarem fofas. Depois, ele moveu a placa para longe de onde ela estava antes.
“Nong Moon fez sozinho?”
“Sim...” Nong Moon respondeu com uma voz bem clara. Mas, depois ele franziu o cenho e sacudiu a cabeça. “Não, Moon fez junto com o Professor Bonito.”
Então, a pessoa que enrolou a placa dele com plástico foi o Professor Bonito do Nong Moon.
Eu me virei e saudei com um wai o Tio Man, que veio dar uma olhada na área. Ele aceitou meus respeitos e tirou o chapéu. Hoje, Tio Man se vestiu com mais zelo do que de costume.
“Professor... Eu vou para a cidade tratar de negócios. Você precisa de alguma coisa?” Tio Man sorriu gentilmente, e colocou um grande chapéu de pano na cabeça do Nong Moon, o que fez ele dar um risinho.
“É melhor eu não te incomodar, Tio Man. Mas, você tem certeza que pode ir sozinho?”
“O Professor Hia disse que também precisa cuidar de alguns assuntos.”
“Então, tenha uma boa viagem.”
“Obrigado, Professor. Eu deixo as crianças em seus cuidados.”
Tio Man depois voltou para o vilarejo. Já as crianças, corriam e brincavam como costumavam fazer. Elas são crianças muito boas, que obedecem aos adultos. Elas faziam tudo o que mandavam elas fazerem. Não é estranho que todos aqui sejam gentis e amáveis, incluindo eu também.
Especialmente...
“Professor, o que Moon deve fazer?” O pequeno segurando a minha perna continuava piscando os olhos, como se estivesse pensando.
“Por que você perguntou isso?”
“O Professor Bonito disse que P’Jan está fedendo... Se Moon se recusar a lavar a boneca, o Professor Bonito não vai mais me deixar segurar P’Jan.” Nong Moon olhou para baixo, cheirado a sua boneca favorita, ele não entendia. Então, ele me deu a boneca para cheirar. Na verdade, não estava tão fedida assim, mas tinha sujeira nela, provavelmente de quando Nong Moon a deixou cair.
“Então, deixa o Pi lavar ela.”
“Não!” Nong Moon sacudiu a cabeça. Suas bochechas fofinhas estavam tremendo, o que fez ele parecer fofo. “Primeiro, Moon pediu ao Professor Bonito para lavar, mas ele disse que Moon tinha que lavar a boneca sozinho, porque P’Jan pertence ao Moon.”
Como eu poderia dizer… A lição era boa, mas eu acho que o rude deveria dizer que ele estava com preguiça de fazer isso.
“Então, depois que as aulas acabarem, Pi vai levar você para lavar a boneca.”
“Tudo bem!”
Depois, nós voltamos para a sala de aula. Não importa o quão frio esteja o clima, as crianças ainda estudam sem reclamar. Eles parecem muito felizes por poderem estudar, e isso me deixa feliz por ensiná-los. E elas parecem especialmente interessados em números. Nong Ja disse que ele queria ouvir as pessoas que vem ao vilarejo para comprar vegetais aqui.
“Você tem um sonho ou não?”
Foi a resposta dessa pergunta que eu pedi para as crianças escreverem na redação. Elas sabem escrever, embora sejam lentas e precisem de muito tempo para pensar, nas no final, conseguem fazer. Até mesmo o mais novo, Nong Moon, já consegue escrever sozinho. Elas me disseram que Mae Yai as ensinou como escrever há muito tempo.
Depois que as aulas terminaram, eu liberei as crianças para irem para casa. Depois, eu sentei no chão, examinando os papéis em que as crianças escreveram seus sonhos.
“Guitar...” Solo me chamou enquanto entrava. Nong Moon estava agarrado à sua perna, seguindo ele que nem um cachorrinho, como esperado.
“Sim?”
“O que você tem feito?”
“Olhando para os sonhos das crianças. Vamos ler juntos.” Eu sorri e, depois, me aproximei do Solo, sem esquecer de colocar o Nong Moon no meu colo.
A criança mais velha, Nong Ja, não escreveu frases pequenas e fez alguns desenhos, como os outros. Ele escreveu frases longas e fez um pequeno desenho embaixo do parágrafo.
“Meu sonho é desenvolver esse lugar. Eu quero que meus pais sejam felizes. Eu quero que muitas pessoas venham aqui. Professor Hia disse que se as pessoas vierem aqui, haverá renda. Então, a gente vai ter dinheiro para comprar remédios e outras necessidades. Mas o professor disse que não podemos simplesmente ficar aqui sem fazer nada. A gente tem que tentar para conseguir isso.”
Embaixo das frases, tem o desenho de um jovem garoto com uma vara apontando para um quadro... a mesma coisa que ele viu quando o Tio Man teve uma reunião com outros aldeões.
O Nong Sao, filho do Tio Man... Ele desenhou montanhas cobertas com grama verde e, no meio disso, tinha várias pessoas com um sorriso nos rostos.
“Eu quero plantar muitos vegetais, tanto quanto meu pai.”
Eu fico sorrindo enquanto leio seus sonhos. Quanto mais eu leio, mais sorrio.
“E por que Jay é careca”?
“Eu sei, né?!” Eu ri da pergunta do Solo. Ele também riu. Nong Moon, mesmo não entendendo, riu com a gente.
Eu continuo lendo os sonhos deles. Há muitos sonhos. Alguns são possíveis, outros não. Mas eles fizeram a gente dar risadas que ecoaram por toda a sala de aula.
Então, eu peguei o último papel...
“É meu!” O pequenino erguei a sua voz e ficou animado. Eu olhei nos olhos Solo antes de examinar o papel nas minhas mãos.
O desenho parece ser o ponto principal desse papel.
E no final do papel, tem um texto escrito à mão que não parecia bonito, mas depois de ler...
“O sonho do Moon é ser a lua para todo mundo.”
“O que você quer dizer?” Eu abaixei a minha cabeça para perguntar para o pequenino sentado no meu colo. Nong Moon riu e depois apontou para o desenho no papel com o dedo.
“Essa é a lua.... E essa lua representa o Nong Moon.” Ele, depois, moveu sua mão e apontou para um grupo de pessoas multicoloridas. “E aqui está todo mundo. Tem o Professor Bonito, Professor Sorriso, Professor Hia, a Diretora, P’Ja, P’Sao, Vovó Jit e os outros."
“E o que é isso?” Eu apontei para a pilha de alguma coisa pintada de verde
“Dinheiro.”
“Dinheiro?!”
“O Professor Bonito disse que se uma pessoa quer que todos fiquem bem e sejam felizes, então, essa pessoa tem que ter dinheiro também.”
Eu imediatamente olhei para a pessoa que era chamada de professor. Solo apenas riu e me olhou de forma inocente.
“E o que você escreveu aqui?” Eu apontei para as letras. Nong Moon estava sorrindo e, depois, olhou para cima e descreveu com uma voz clara.
“Moon queria ser a lua para todos. Queria ser uma lua maravilhosa para fazer todos se sentirem felizes... Mas o Professor Bonito disse que não era o bastante. O Professor Bonito disse que Moon tem que ser diligente, estudar muito, fazer um bom trabalho e ganhar dinheiro para poder ajudar os outros.”
Eu olhei para o Solo com um olhar que ameaçava puni-lo, mas não posso negar as coisas que ele disse para o Nong Moon. Tudo o que ele disse estava certo, porque o mais importante hoje em dia é o dinheiro. Quando uma pessoa tem dinheiro, pode fazer quase tudo.
Até mesmo eu penso assim.
“Sim, ter dinheiro pode fazer as pessoas felizes... Mas o Nong Moon não deve esquecer a ternura e seu desejo de fazer as pessoas felizes.” Eu acariciei gentilmente a cabeça do Nong Moon, depois fiz um joinha para ele.
“Ok!” Nong Moon respondeu com uma voz feliz, antes de enganchar seu dedinho no meu dedo.
“E qual o sonho do Guitar?”
“Quero ser rico.”
Solo ficou surpreso e ergueu suas sobrancelhas escuras. Sua cara mostrava claramente que ele achava que eu estava brincando.
“Não era Guitar que queria ser engenheiro?”
“Quem disse isso?..." Eu ri da pergunta que eu ouvi pela primeira vez na minha vida. “Pi não quer ser engenheiro.”
“Então, o que Guitar quer ser?”
“Se So perguntasse qual carreira Pi quer seguir, Pi responderia qualquer coisa.”
Eu afaguei a cabeça do Nong Moon e olhei em seus olhos, que pareciam dizer que ele não entendia sobre o que os adultos estavam falando, mas ainda tentava ouvir. “Como Solo disse para Nong Moon, dinheiro é importante para várias pessoas e Pi é uma delas.”
“Então, por que estudar engenharia?”
“Pi não tem nenhum emprego dos sonhos, nem ninguém para seguir os passos. Mas, tem algumas coisas que o Pi é bom. Então, Pi escolheu aprender aquilo que o Pi acha que sabe fazer melhor. Depois da graduação, Pi pode ter um bom trabalho. E, aí, Pi vai poder realizar o sonho de ser um homem rico.” Eu olhei para o rosto do Nong Moon, enquanto pensava no sonho dele e nos sonhos das outras crianças.
“Sonho...”
“Sonhos podem ser possíveis ou impossíveis. Para algumas pessoas, é impossível até mesmo pensar em realizar o que eles desejam. Então, chamam de sonho, porque, para eles, é algo que nunca vai acontecer. Mas algumas pessoas pensam que é algo que pode acontecer. Depende deles, se quiserem seguir seu sonho ou não. O sonho do Pi é incerto. É possível... Mas não sei se posso realizar ou não.”
“E porque Guitar quer ser rico?” O curioso rude perguntou, mas sua mão continuava puxando a boneca de lua do Nong Moon, e ele também fez uma cara de assustado.
“Todos não querem ser ricos?”
“Bem, é verdade...” Solo parou de olhar para o Nong Moon e me olhou com uma cara séria. “Mas nem todos estavam levando o sonho tão a sério como o Guitar.”
Eu sorri para o rude, que, às vezes, agia como se soubesse de tudo, mas, de vez em quando, agia como um filhotinho.
“Pi queria ser rico e ter dinheiro porque o Pi queria que Mae Yai tivesse uma vida confortável. Pi pode fazer qualquer trabalho, mas se o Pi se formar em engenharia com notas altas, seria bom porque, como engenheiro, poderia ganhar muito dinheiro.”
Eu sempre vi como Mae Yai trabalhou duro. Mesmo sendo velha, mas ainda tendo que tomar conta de várias crianças, mesmo depois de muitas sendo adotadas e cuidadas por boas famílias. Mas, Mae Yai ainda vivia no mesmo lugar cuidando das outras crianças.
“Mas, agora ela não está mais aqui...”
Então sonhos parecem que terminam também.
“Guitar...”
“Professor!”
O grito veio com Nong Sao, que corria enquanto arfava. Eu, rapidamente, enteguei Nong Moon ao Solo e me levantei para pegar o menino que caiu no chão.
“Nong Sao, o que aconteceu? Por que você está correndo assim?”
“Professor...Professor, ajuda!” Nong Sao falava enquando arfava e seus olhos estavam muito vermelhos, como se ele estivesse prestes a chorar.
“O que aconteceu?”
“No... no vilarejo.”
Eu fiz contato visual com a pessoa perto de mim. Solo, então, se levantou e correu para o vilarejo com Nong Sao, que saiu logo depois dele. Eu não tive tempo de me preocupar com ele, porque estava com medo de algo ruim ter acontecido no vilarejo.
Assim que chegamos, a primeira coisa que vi foi um grupo de dez pessoas desconhecidas encarando os aldeões. Só o Tio Man e a Vovó Jit estavam corajosamente em pé na frente. Mesmo assim, eu ainda podia ver o medo, especialmente nas mulheres que abraçavam as crianças para protegê-las.
“Vocês são apenas uma tribo que vivem na colina. O que vocês sabem sobre comércio?” Um homem grande, vestindo roupas caras gritava. Eu fechei a cara e me aproximei.
“A Diretora nos ensinou tudo sobre comércio. Como não saberíamos que vocês estão nos enganando?” Tia Jit respondeu com a voz trêmula. Eu conseguia ver que ela não estava com medo deles, mas temia que eles machucassem as outras pessoas.
“A velha Diretora já está dentro do caixão. E aqui está você, discutindo como se fosse uma pessoa com conhecimento. Mas quando eu vim aqui sozinho, todos vocês começaram a se retrair e a se esconder.”
“Algum problema?” Eu caminhei na direção deles e tentei falar com uma voz normal, apesar do fato de o meu coração estar fervendo mais que o de qualquer outro.
Todas as pessoas direcionaram sua atenção para mim. Os aldeões olhavam para mim com olhos suplicantes e felizes. Enquanto, no outro lado, que eu acredito que era o intermediário para o comércio, parecia descontente. Solo, então, deixou Nong Moon ficar com as outras crianças e veio ficar ao meu lado.
“Quem é você? Por que está se intrometendo?” Alguém gritava enquanto perguntava. Eu segurei o braço do Solo, quando notei que ele estava mais irritado do que nunca.
“Eu sou o professor das crianças daqui.” Eu tentei dizer para eles, mas parecia que o outro lado não estava interessado em ouvir.
“Ok... Depois da velha, essa é outra pessoa fraca.”
Eu dei um sorrisinho, não me importando com as ações e os insultos que eu recebia deles.
“Não sabia que você tinha problemas com isso?!”
Alguém deles ficou com raiva, mas o homem de meia idade que estava na frente ergueu a mão para frear a pessoa irritada.
“Vá e fale como os aldeões. Diga para eles venderem seus produtos para mim pelo preço que eu estipulei, e ninguém aqui vai se ferir.”
Eu não disse nada, apenas puxei o braço do Solo para me seguir e procurar pela Tia Jit.
“O que exatamente aconteceu aqui, Tia?”
“Essas pessoas já vieram aqui comprar nosso produtos muitas vezes, Professor. Geralmente, sem aquele Ai’Hieng, o líder. Mais ou menos quatro ou cinco pessoas vinham para levar as mercadorias. Mas, normalmente, todas as vezes que eles vinham, a Diretora os ameaçava e eles ficavam assustados. Ela falava como alguém com conhecimento, então, gangsters que nem eles, não se atreviam a ir contra ela. A Tia explicou que eles só vendiam para o Khun Feung. Mas, eles se recusavam a ouvir e ainda exigiam um preço mais baixo." A Tia Jit contava enquanto suas lágrimas caiam. “Tia tinha medo de que eles machucassem a gente. Então, no fim, concordamos em vender para eles por um preço razoável, mas eles não concordaram. Semana passada, eles mentiram para a gente e, mesmo assim, voltaram."
“Tudo bem, Tia.” Eu segurei a mão da Tia Jit e a puxei de volta para se juntar aos outros aldeões, Tio Mai foi atrás.
“Vocês querem vender ou não?!”
Eu me virei e olhei para a pessoa que gritou. Mesmo eu estando descontente, manter a calma era o mais importante agora.
“Não seria bom se comercializássemos de maneira justa? O modo como vocês fazem as coisas aqui é ilegal. Coagir as pessoas não é uma boa coisa. Se eu reportasse, vocês podem ir para a cadeia.” Eu disse calmamente, tentando não mostrar nenhum ressentimento nas minhas palavras.
Eles olharam uns para os outros e, depois, riram. Mesmo que não entendendo qual era a graça, eu ainda tive as boas maneiras de esperar eles rirem.
“Você acha que a lei estaria interessada em pessoas que moram numa colina desse jeito?”
“Mesmo que não esteja, isso não significa que você pode tirar vantagem das pessoas daqui.”
“E por que você está se metendo nisso? Você é só um professor, então continue sendo só um professor. Rapazes, lidem e terminem com isso!”
Eu suspirei profundamente e segurei as mangas de Solo e sussurrei...
“Pi não é bom em conversar com gente sem educação.”
“O que você disse?”
Parece que meu sussurro foi um pouco alto demais... Mas tudo bem, porque ganhar tempo ainda funciona.
“Me perdoe. Eu raramente converso com pessoas sem educação... Então, por favor, não entenda mal. Há pessoas que não tiveram educação, mas ainda sabem como entender e pensar. E algumas são educadas, mas se comportam como pessoas sem educação.” Eu me senti meio desconfortável porque eu não tinha certeza quais palavras eu deveria usar depois. Mas, devido eles terem sido interrompidos e ficado paralisados por um momento, eu tive tempo para organizar as minhas palavras. “Eu devo dizer que quando mencionei ‘pessoas sem educação’ não é sobre elas terem educação ou não, mas me referia aqueles que tem problemas de desenvolvimento mental, que não usam o cérebro para pensar e só fazem o que querem, sem se preocupar com os sentimentos das outras pessoas.”
“Você!”
Eu cocei minha bochecha e ainda não estava ciente de que minhas palavras poderiam causar problemas. Eu só fiquei lá esperando calmamente eles me xingarem de volta ou talvez não. Em outras palavras, eu acho que tudo que eu disse era verdade e essa é a forma mais educada de dizer isso. Quando eu tinha problemas com os outros alunos na universidade, eu só usava palavras para fazê-los entender, e ele entendiam. Mas com essas pessoas...
Eu fui puxado para trás pela pessoa perto de mim e, agora, Solo estava parado na minha frente, me cobrindo. Então, ele se virou e sorriu para mim, enquanto acariciava minha cabeça gentilmente.
“Esse Guitar, na.”
“Ele estava falando da Mae Yai.”
Há um limite para a minha paciência. Ele estava falando rápido daquele jeito, nem mesmo um monge aguentaria isso.
“Sim, eu sei.” Solo se virou para a frente e me puxou um passo para trás antes de dar um passo para frente.
“Vocês vão pagar por isso!” Khun Hieng gritou alto, sua cara vermelha mostrava que ele estava com raiva.
Na hora que as pessoas do Khun Hieng partiram para cima, eu pude ver a sombra de uma pessoa que vinha na nossa direção. E se eu não estiver enganado.... Era Khun  Jay.
“É melhor você não estar morto!”
Eu franzi o cenho enquanto olhava para o homem que estava correndo na direção do Solo. Eu joguei uma pedra naquele homem, mas isso só fez com que ele mudasse sua atenção para mim.
Murro!
Porque Solo estava me bloqueando, eu não me machuquei, mas Solo levou um soco na cara no meu lugar.
“So!” Eu segurei a pessoa que estava assustada. O homem em meio aos aldeões se levantou e nos ajudou, mas a pessoa nos meus braços parecia que ia perder a consciência. Os olhos incisivos que eu olhava regularmente perderam seu brilho. Mas, apenas alguns segundos depois, Solo me puxou para longe, passou pelos aldeões e chutou com força a pessoa que deu um soco nele.
Eu ajudei a proteger as mulheres e as crianças de serem atingidas, e só consegui ver preocupação e ansiedade, enquanto olhava para o caos diante de mim.
Eu não esperava que Khun Jay viesse tão tarde. Embora eu não tivesse certeza quem eram, havia mais de dez pessoas com ele. Eu os tinha visto mais cedo, então achei que poderia ganhar tempo até eles chegarem, mas tudo aconteceu muito rápido. Eu fiquei triste porque não pude atrasar mais as coisas.
“So!” Eu gritei o nome dele quando Solo levou um soco na cara. Eu queria ir até ele, mas não podia porque tinha algumas crianças agarradas à mim.
“Jay!” Solo gritou com uma voz que mostrava uma clara irritabilidade.
“Acabem logo com isso!” A voz do Khun Jay podia ser ouvida e tinha muitos homens que vieram com ele. Os dois lados começaram a lutar e, então, Khun Hieng foi atacada unilateralmente.
Eu mandei as crianças para o tio, para que se retirasse para um lugar seguro, antes de ir até a pessoa que queria matar alguém. Eu segurei firmemente o Solo, que estava olhando com frieza para a confusão.
“So...” Eu chamei seu nome e toquei suavemente as costas da sua mão, o que fez com que ele imediatamente se virasse e olhasse para mim com uma visão fraca... “Você está ferido?”
“Estou bem.”
Bem?... Mas sua boca está ferida.
“Khun Chaai” Khun Jay se aproximou de nós com sua cara emburrada incomum.
“Eles podem lidar com isso. Não se envolvam com esse tipo de coisa.”  Solo ordenou com uma voz suave, depois, abaixou sua cabeça para me deixar limpar sua boca com uma toalha que foi dada pelos aldeões.
“Sim, mas não precisa se preocupar com isso. Tem uma coisa mais importante...”
Solo se virou para olhar para  as pessoas que vieram com Khun Jay, que agora estavam lidando com as pessoas que vieram causar problemas aqui.
“Como eles puderam vir aqui?”
“Eles foram enviados para encontrar Khun Chaai”. Khun Jay respondeu com uma voz séria. Ele não parecia bem que até me deu vontade de perguntar se ele estava bem ou não, mas não quis interromper a conversa deles.
“Mas, normalmente, meu pai nunca se incomodou comigo tanto assim.” Solo agiu como se não entendesse, mas quando ele olhou para os olhos diretos de Khun Jay, ele franziu o cenho. “Ou é que...”
Khun Jay acenou com a cabeça e sua expressão era dolorosa, como se quisesse chorar.
“Khun Tan chegou ontem na Tailândia... Ele veio com Khun Linda.”



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