quarta-feira, 16 de junho de 2021

Miracle Of Teddy Bear - Capítulo 4: Bang Rachan

Tradução: Victor
Revisão: Izzy
Controle de qualidade e revisão final: Nessa
- Equipe KhunPandex Traduções.
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Capítulo 4 — Bang Rachan.

Após o banho, a pele branca e macia de Taohu adquiriu uma tonalidade rosada. Ele cheirava levemente ao gel de banho que P’Nat costumava usar. Entretanto, o corpo de P’Nat tinha um cheiro único. Os aromas se mesclavam, se transformando em um novo, que era diferente do dele. Para poder continuar sentindo esse cheiro até que ficasse satisfeito, Taohu tinha de permanecer próximo de P’Nat, era o único jeito, pensava ele.

Deixando a toalha absorver a água do corpo, ele caminhou para fora do banheiro. Acontece que lá estava o seu dono, esperando por ele. O corpo alto de P’Nat apoiou-se contra o guarda-roupa. Na parte superior, vestia uma camisa havaiana escura com a parte de cima desbotoada, revelando o seu peito. Na parte inferior, uma calça justa xadrez. Ele levou seus olhos para o Sr. Smartphone. Quando seu dono olhou para Taohu, ele estava com uma expressão levemente espantada.

“Por que tirou a roupa?”

A pessoa para quem a pergunta foi dirigida não entendeu. Taohu tinha visto P’Nat fazer isso, então ele fez a mesma coisa.

Ao observar, talvez, a expressão confusa de Taohu, P’Nat fez uma cara impassível e abriu o guarda-roupa. Taohu, então se embrulhou na toalha como um Super-Homem, assim P’Nat não saberia que ele havia tirado a roupa de novo. Porém, parecia que P’Nat não estava nem ligando.

“Quantas roupas você tem? Aqui! Minha camisa velha”.

Camisas que P’Nat raramente usava, pensou Taohu.

Na verdade, Sra. Mattana trouxera algumas roupas de P’Nat para Taohu. Porém, Taohu sabia que as roupas que a tia havia trazido eram as que P’Nat gostava de vestir e ele não queria tomá-las de seu dono, por isso ele pediu aquelas outras (as que P’Nat quase nunca usava) para ela.

“Minha mãe deve ter escolhido essas para você”. P’Nat entendia mesmo ela.
Sem esperar por uma resposta de Taohu, P’Nat entregou-lhe outra camisa, calças e uma cueca.

“Obrigado!”.

P’Nat pareceu querer falar alguma coisa. Porém, assim que se aproximou e viu alguns sinais na pele de Taohu, mudou de ideia.

Ele ficou curioso e olhou para seu próprio corpo, então descobriu o que P’Nat havia visto: as marcas vermelhas em ambos os lados do seu peito.

A voz de P’Nat estava alta enquanto dizia, “Rápido! Vamos sair”.

Depois de reclamar, os olhos da pessoa se voltaram novamente para o telefone.
P’Nat não percebeu quando o seu celular disse para Taohu: “Urso, tente ganhar tempo”.

Taohu paralisou, quase choramingando um ‘hm’, mas parecia que o Sr. Smartphone estava adivinhando que ele iria se meter em problema de novo. “Agora há pouco, P’Nat usou um aplicativo para chamar um táxi, mas o destino não é o hospital”.

“Oh!” Elevou-se a voz do tio Notebook de dentro da mochila que P’Nat carregava.

O Sr. Smartphone disse, “Ele vai te levar para a delegacia!”

Aquilo deixou Taohu em pânico. “O que eu faço?!”

“Quê?” P’Nat perguntou embora com os olhos ainda focados na tela do celular.

“P’Nat, você já chamou um táxi?”.

“Já”. Respondeu ele, levantando seu olhar para Taohu. “Ele está perto daqui, vai chegar logo, logo”.

Assim que terminou de falar, uma buzina soou “Bi! Bi!” na frente da casa.

“Provavelmente é o táxi. Você deve se apressar”.

Por mais que ele quisesse atrasar o tempo como havia advertido o Sr. Smartphone, o corpo de Taohu era obediente a P'Nat. Às vezes isso acontecia. Logo após de ter vestido os jeans, mas ainda antes de conseguir terminar de vestir a camisa, Taohu teve que seguir P'Nat para fora do quarto. Sim, mesmo ele querendo deitar o corpo no chão e chorar, como fazem as crianças quando estão protestando contra os pais.

O coração de Taohu acelerou ainda mais enquanto ele descia as escadas. A notícia passou de boca em boca até chegar ao sofá, que exclamou: "Puta merda! Quando era um brinquedo, quase foi jogado fora. E agora mesmo depois de se tornar um humano, ainda assim vai ser levado à polícia?".

"Oh!” Exclamou P'Nat quando viu que a pessoa que o acompanhava simplesmente parara de andar. "Por que parou?"

"O carro está à espera do Pequeno Príncipe”.
Taohu empalideceu, sua voz tremia: "Bem... na verdade, eu não estou com tanta dor nas costas assim. Não tem necessidade de eu ir”.

P'Nat franziu as sobrancelhas. Ao ouvir aquela resposta, o rapaz se aproximou, levantando a mão e a pressionou contra as costas do outro.
Apenas isso, e Taohu já estava assustado, "Ai!”.

"E você dizendo que não dói".

"P'Nat..."

"Vamos, filho”. Até a Sra. Mattana se levantou e tocou seu braço. "O doutor é gentil”.

Naquele momento, Taohu não sabia o que fazer ou dizer. Ele estava com medo de não voltar mais, mas tanto P'Nat quanto a tia o pressionavam.

"O Pequeno Príncipe será curado”. A Sra. Mattana acariciou o braço dele com sua velha mão. Depois se voltou, falando para o ar "Não é mesmo, papai?”.

A atitude de sua mãe aborreceu P’Nat. "Vamos logo!"

Eventualmente, Taohu teve que entrar no táxi que estava esperando na frente da casa. P'Nat insistiu para que ele entrasse, apressando-o. Logo após entrar, Taohu bateu a porta, fechando-a com um grande “Bang!".

Como se sua esperança tivesse despencado, sua mão trêmula se agarrou à base da janela. Ele olhou lentamente para a aconchegante casinha onde tinha vivido desde o primeiro dia e algumas outras vezes.

Quando o carro deixou o beco, a casa estava completamente fora de visão. Os dois lados da estrada apresentavam agora uma nova vista; uma que ele nunca havia visto antes. Não era diferente do vídeo que ele havia assistido pelo Sr. Smartphone. Havia casas em ambos os lados da estrada. Havia também árvores altas e os cidadãos estavam se aglomerando, indo para lá e para cá. Antes, Taohu havia sonhado em sair para dar uma olhada mais de perto. Ele não imaginava que quando visse a coisa real tudo fosse aterrorizante. Tão horrível e triste, mesmo com o rádio do carro ligado, tocando uma música calma junto de furos de reportagem.

"A lua artificial que a China planeja construir é oito vezes mais brilhante do que a original, ouvintes. Eles a usarão em substituição às lâmpadas de rua...”

Ninguém se importava com aquela lua. Até o motorista que havia ligado o rádio estava olhando para as barracas de comida de rua durante a viagem. P'Nat pegou o smartphone para jogar.

A imagem que se formava por detrás dos olhos de Taohu era de um acontecimento de quando ele estava na casa de P'Nat, ao lado de sua cama. Não nesta casa de agora, mas na casa antiga. Taohu não sabia quando ele tinha estado lá. Ele tentou perguntar aos outros móveis, mas ninguém sabia também. Nem mesmo o sábio tio Notebook. Ele próprio não conseguia lembrar.

“Quando foi que eu cheguei?” Se perguntava Taohu. Na primeira vez que viu seu dono, P'Nat era um pouco menor. Ele gostava de entrar no quarto com calças pretas e uma camisa branca com uma inicial bordada no peito esquerdo. Ele ainda era muito baixo naquela época.

Com o passar do tempo, P'Nat foi aos poucos crescendo. Seus cabelos ficaram mais compridos, e as calças que ele usava aumentaram de tamanho. Seu rosto brilhante possuía uma pequena barba. Quando o segurava por um longo tempo, a barba fazia cócegas em Taohu, mas ele ficava feliz.
Sim, faz um longo tempo...

O ar não estava gelado, mas seu corpo estava tremendo. Taohu de repente sentiu um frio profundo em seu coração.

“Mesmo se eu ainda fosse um urso de pelúcia”, pensou ele, “P'Nat talvez me abandonasse um dia...”

Lágrimas desceram suavemente dos olhos de Taohu. Elas teriam se estendido sem fim se não fosse o tio Notebook dizer-lhe para acabar com aquele devaneio.

"Pegue este exemplo, urso”. A voz era severa, como se ele tivesse acabado de pensar e tomado uma decisão. "Você senta-se na lateral, é mais fácil de abrir a porta. Você só precisa esperar. Quando o táxi parar e P’Nat for pagar a corrida, apenas se apresse e fuja. Você se lembra de onde fica nossa casa?“

O tio perguntou e ele mesmo também respondeu, enfatizando: "Você deve se lembrar. Fuja e chame um outro táxi. Diga ao motorista para mandá-lo para o endereço de casa. Quando você chegar, chame a Sra. Mattana para vir e pagar a conta. Não se importe com nada”.

"Mas isso vai gerar um mal-entendido".

A resposta de Taohu fez P'Nat voltar-se para ele com suspeita. Enquanto que o motorista havia entendido que ele se referia à notícia da rádio. Ele respondeu: "É isso mesmo. A próxima geração vai pensar que existem duas luas”.

P'Nat suspirou e murmurou: "Os pais delas vão ensiná-las o correto, não?”.

Taohu devia estar aliviado com o termino da suspeita. Porém, como as placas na estrada começaram a apontar para a Delegacia de Polícia, sua tranquilidade tinha acabado.
Provavelmente por ele ainda ser um ursinho de pelúcia muito jovem, havia ainda muita esperança e confiança nos seres humanos. Ele não pensava que os humanos o abandonariam facilmente. Ele estava tentando encontrar uma maneira rápida que pudesse fazer P'Nat deixá-lo ficar.

Se ele abraçasse P'Nat francamente, perguntando e contando tudo honestamente, será que P'Nat vai ouvi-lo e querer ajudá-lo?
Os conselhos que vieram dos itens mais experientes em casa indicavam que não era uma boa ideia, então, o que ele deveria fazer? Como fazer P'Nat compreender e não o levar embora? Se o rádio estivesse falando sobre algo mais próximo de nós, seria bom...

"Está logo ali. Mas estamos presos no congestionamento”. O motorista reclamou, acenando para um grande prédio não muito longe.

O coração de Taohu acelerou novamente.
Finalmente, ele decidiu dizer "Não é nada disso”.

O motorista olhou para trás através do espelho retrovisor queixando-se, "O quê?” P'Nat também lançou um olhar em sua direção.

"A próxima geração não vai entender que existem duas luas”.

"E o que será mal-entendido, então?". Perguntou o motorista.

"Eu quis dizer a primeira lua." Ele olhou fixamente para o motorista. Cada palavra era difícil porque ele nunca tinha dito nada parecido com isto.

"Se existir uma lua artificial que brilhe melhor, a primeira lua vai ser erroneamente entendida como algo sem propósito e depois vai ser desprezada, apesar de ela mesma não ter feito nada de errado”.

Ele respirou fundo, impedindo sua voz de ficar trêmula. Ele continuou falando enquanto o carro começava a andar. Uma imagem apareceu em sua mente. Era uma do momento em que lágrimas saltavam dos olhos de P'Nat enquanto o mesmo virava as páginas de um livro de figuras; uma história que não tinha título em tailandês.

"Ser visto como não tendo valor e depois facilmente abandonado. Isso dói mais do que tudo. Se a lua tivesse um coração, ela continuaria a perguntar o que havia feito de errado. É patético porque será uma pergunta que nunca será respondida”.

Mesmo agora, encontrando os olhos do motorista, Taohu sentia claramente que P'Nat o estava observando.

"Por que fala sobre isso com tanta profundidade, meu jovem?" O motorista riu para ele.

Mas P'Nat não riu e também não disse nada novamente até o carro estacionar.

Por esta razão, assim que o carro estacionou, Taohu fugiu na mesma hora. Abriu a porta do carro assim como ele via fazerem nos vídeos. P'Nat voltou-se para ele, se perguntando como Taohu sabia que eles tinham chegado, pois estavam em frente da delegacia. No início, ele estava ciente de que seria levado ao hospital — no entanto, até o momento, Taohu não estava pensando nisso. Depois de sair do carro, ele correu para a calçada.

Seus ouvidos estavam cheios dos gritos de P'Nat através do barulho e do caos ao redor. "Ei, pare!" Mas ele não parou. Ele não interrompeu seus passos nem suas lágrimas. A imagem à frente dele tornou-se desfocada. Ele levantou as costas da mão e limpou ligeiramente, sem parar de correr. Ele corria com medo de que o dono da voz atrás dele o apanhasse e depois o levasse para aquele lugar enorme e o abandonasse ali.

O prédio na calçada era um edifício comercial de quatro andares. A partir do segundo andar, havia janelas estreitas alinhadas com um emaranhado de arames encobrindo o céu. A calçada era bastante estreita porque, do lado da estrada, havia pessoas montando barracas ou estacionando carrinhos para vender comida. Às vezes, havia motocicletas passando. Estas pessoas praguejavam contra Taohu. Até mesmo cães de rua ladravam. Alguns deles vinham em sua direção atrás de morder sua batata da perna. Se não houvesse nada com que se preocupar, Taohu provavelmente já teria parado de ter medo. Entretanto, na sua cabeça, naquele momento havia apenas as palavras de seu tio. Ele precisava fugir e voltar para sua casa, se ele continuasse ainda ali, nunca mais voltaria para lá.

"Taohu! Pare!" A voz de P'Nat indicava sua distância. Taohu se virou e comprovou que a pessoa estava realmente muito distante dele. Era para ele estar feliz, mas estava estarrecido.

E ficou ainda mais assustado quando suas pernas tropeçam acidentalmente no chão de pavimento, "Ai!”.

O tornozelo humano não é o mesmo que o tornozelo de um brinquedo. Quando ele cai, dói. Além disso, o joelho que havia se chocado contra o chão tinha uma ferida aberta que sangrava.

Taohu ficou apavorado, mas mesmo assim tentou se levantar e correr; sua velocidade, porém, estava ficando lenta.

Taohu nunca havia visto um edifício como aquele antes. Parecia um daqueles shoppings que eram anunciados nos vídeos. A diferença, entretanto, era que o prédio não era novo e não estava repleto de gente bonita.

Este antigo edifício tinha tetos altos, colunas retangulares revestidas com espelhos em todos os seus quatro lados. O piso de cor creme e preto tinha um espaço em branco no meio para os transeuntes. Ambos os lados do corredor incluíam armários de vidro todos na altura do peito. No interior, a lâmpada fluorescente foi ligada, conectada a um dispositivo móvel, para que ela se destacasse.
Com olhares indiferentes, os funcionários do lado de cada armário observavam Taohu entrar ofegante; como se não fossem despertar de seus estados apáticos nem se meteoritos atingissem a Terra. Era diferente do que Taohu conhecia. Mesmo sendo objetos, eles ainda eram mais vivos do que estes humanos. Era uma visão e sentimento aterrorizantes.

Como ele estava determinado a triunfar sobre a possibilidade de ir preso e ser enviado para a delegacia, Taohu se pôs a continuar. A loja de acessórios para smartphones se transformou em bandejas de roupas. Calças novas sendo exibidas em uma prateleira velha com roupas surradas e gastas. O letreiro de venda estava escrito ali brilhando.

"Taohu! Taohu!" A voz de P'Nat estava ofegante enquanto ele o perseguia. Seu rosto estava tão suado quanto o de Taohu. Os olhos de Taohu se alargaram e olharam dentro da sala como se decidisse se ele devia ou não estar ali. Mas será que P'Nat o seguiria?
Neste momento, o Urso ouviu seu coração humano batendo em seu peito incessantemente por mais tempo do que o normal. Até ver P'Nat respirar fundo e recuar lentamente.

Em vez de se sentir feliz, ele se sentiu desconcertado. Ele queria que P'Nat continuasse a persegui-lo. Mas também, ao mesmo tempo, ele não queria que P'Nat o seguisse. Seu sentimento humano continuava ficando cada vez mais complexo, e ele não conseguia decidir o que realmente queria.
Ele tentou organizar sua mente e seu pensamento de forma racional. Se P'Nat continuasse a segui-lo, era mais provável que ele fosse levado à polícia. Era melhor que P'Nat recuasse como havia feito. O fato de que P'Nat o havia trazido para a delegacia demostrava sua determinação em abandoná-lo. Ele não ia abandoná-lo, retirando-se daquele jeito.

Mesmo assim, Taohu ainda não conseguia se controlar. No final, ele voltou acidentalmente pelo mesmo caminho e secretamente o procurou. Ele ainda se sentia aquecido ao ver P'Nat em pé lá longe.

Seu dono olhou em sua direção. Taohu só conseguia pensar P'Nat, você vai conseguir me ver? Ele pôs sua cabeça para fora da porta do shopping, mas P'Nat não pareceu lhe ver e então ele puxou sua cabeça de volta para dentro.

“P'Nat pode não me ver. Mas, ele está me esperando para me pegar quando eu sair”. Mesmo com o coração doendo, ele disse para si mesmo. Taohu pensou que tinha de fugir para mais longe até que P'Nat não conseguisse mais alcançá-lo.

Suas pernas ainda estavam bastante doloridas. Então, o pequeno Urso teve que caminhar mancando dentro do edifício. Acontece que o lugar era um pequeno prédio. A porta dos fundos costumava estar ali, mas agora estava bem fechada. A única maneira de continuar fugindo era saindo pela porta da frente.

“P'Nat já sabia disso. Por isso ficou sentado apenas esperando por mim”.

Já há muito, Taohu se orgulhava da inteligência de seu dono. Ao pensar nisso, ele queria ter pelo menos a metade da inteligência de P'Nat. No caso de suas próprias decisões serem as corretas.

“Primeiro, tenho que me esconder neste lugar”.
Sem ninguém para consultar, ele tinha que falar consigo mesmo. Ele assentiu para si e começou a procurar um lugar.

O piso térreo não era nada bom. Taohu então escolheu o segundo andar. A escada rolante para cima não funcionava, ele tinha que andar sozinho. Sorte que não era muito alto; caso contrário, suas pernas doeriam bem mais.
O segundo andar do edifício parecia ainda mais aberto do que o térreo. O pátio era de artigos de consumo doméstico como meias, roupas íntimas, artigos de papelaria, cadeiras de lona, prateleiras de roupas e nécessaires. A borda do prédio era dividida em salas. Nas lojas de informática, havia tão poucos vendedores e visitantes que era como se o prédio estivesse abandonado. As pessoas ali pareciam mais manequins do que os próprios manequins que tinham no andar térreo.
Um barulho de música vinha de uma certa direção. Seus pés seguiram aquele som e encontraram um restaurante lá no final. Havia mesas e cadeiras velhas. As pessoas cuidando da própria vida. Uns poucos funcionários da loja estavam olhando para a televisão à frente.

"Lamentando continuamente por cada respiração. Por quanto tempo mais vou esperar para ver? Ainda que o mundo se acabe, eu continuo ansiando por meu amor... ansiando só por você...". [1]
 
Taohu gritou alto em seu coração. O fato de ninguém estar cantando a música passava uma sensação de solidão e tristeza tanto quanto aquele local sem vida. Quanto mais o dono da loja decorava-a cuidadosamente com arco-íris e bandeiras no teto, mais ela parecia como restos de uma alma sem espírito.

Por causa de uma placa pendurada que dizia “Espaço somente para clientes”, Taohu recuou. Ao recuar, ele lançou seu olhar em direção aos pilares e paredes.

O lugar ao lado da loja que vendia CD’s e DVD’s, potes suspensos e chaveiros. Mesmo ali dentro não havia nada de muito especial. “O proprietário talvez ainda preze por estas coisas antigas que ainda restam”. Taohu olhou para a placa de identificação da loja, 'Amada'. As cores e as letras haviam começado a desbotar. Ainda assim, ele podia ver que ao redor das letras havia desenhos bonitos, bonecas e outras pequenas coisas. Talvez o lugar já tivesse sido aconchegante com um presente para a pessoa amada ao se entrar.
Não muito longe de onde ele estava, havia uma escada escura que levava para cima. Parecia assustador, e as pernas de Taohu ainda doíam. Mas, por curiosidade, ele agarrou a barra e foi subindo devagar, passo a passo.

A escada o levou para o terceiro andar, mas a entrada estava trancada. Havia manchas escuras, sujeira e plumas como em muitos outros cantos deste edifício. Caminhando mais para dentro, Taohu viu um papel rasgado na parede. O papel rasgado ainda estava preso e claro o suficiente, era um pôster de filme. Isto significava que o andar superior era provavelmente a entrada para o cinema.
Não havia ninguém ali em cima. Somente a lamúria assustadora dos pombos voava para o velho prédio no meio da cidade grande. Eles estavam voando para um prédio maior. O cinema era cheio de sombras do passado. Mas aquela sombra não podia mais ser projetada em uma imagem. Como uma lua com uma nova substituta, aguardando pelo momento em que seu valor desaparecerá. “E então ser esquecida e abandonada...”

Surpreendentemente, a escadaria era bastante estreita, escura e silenciosa. E nesse lugar, Taohu sentia-se quente e seguro. “Por quê? Por que sentia que ele havia se tornado uma coisa que também havia sido abandonada?”

“Será que P'Nat ainda espera por mim?”
De longe, um assobio de vento entrou no edifício. Alguns pombos arrulharam, alguns deles bateram as asas. Logo o céu bradou, seguido pela chuva.

[****]

Quanto tempo levou para que Taohu despertasse novamente? O dono da loja de DVD deu-lhe leves batidinhas até que ele abrisse os olhos.

"Não imaginava que você ainda estivesse por aqui. Por que diabos você está dormindo aqui?"

"Eu... sinto muito".

"Levante-se e saia. O lugar vai fechar dentro de momentos”.

"Está bem...".

"Esses garotos...".

O tio reclamou e desceu as escadas. A dor na perna de Taohu havia sumido.

O segundo andar do edifício estava deserto; havia menos pessoas do que quando ele chegara. Muitas lojas já fecharam. A velha loja de karaokê não tinha mais ninguém. Taohu desceu até o andar térreo. Cada dono de loja também estava empacotando as coisas. O departamento inteiro parecia não ter nenhum cliente.

Olhou para o relógio de parede atrás de uma das lojas. Já estava na hora de fechar. Era inacreditável que ele tivesse dormido por quase oito horas. Normalmente, pertences ou objetos dormiam muito pouco porque durante o dia eles tinham que ver a condição antes de dormir e evitar os humanos, o que já era uma forma de sono. Só que agora, talvez pelo fato de Taohu ter se tornado humano, como também o fato de que na noite passada ele ficara preocupado com P’Nat, não conseguiu dormir. Além de o dia estar frio e ele se encontrar em um lugar tranquilo, onde não havia objetos falando. Então, por isso tudo, ele adormecera.

O tempo nas histórias era sempre mais lento ou mais rápido do que o tempo real.
Ainda chovia lá fora, mas ele já estava exausto. Estava escuro. O pequeno Urso olhou para o céu sem saber o que fazer. Ele estava com medo de sair correndo para pegar um táxi.

"Taohu!".

Ele se assustou quando, de repente, a voz foi ouvida. O cabelo e as roupas de P'Nat estavam quase encharcadas. Seu rosto estava bastante tenso. Mesmo seus olhos não mostravam nenhum sinal de emoção.

"Você me deixou esperando por um longo tempo”. A pessoa avançou e puxou seu braço para impedi-lo de fugir novamente.

"Como você está, Urso?" A voz do tio Notebook resmungou da bolsa que P'Nat carregava. "No final, você foi pego novamente por N’Nat..."

A longa reclamação foi pausada quando P'Nat parou na calçada e se virou para falar com ele. "Diga à minha mãe que ele (o médico) lhe deu uma massagem e que você se recuperou. A mãe não vai ficar preocupada”. 

Taohu estava um pouco confuso, mas respondeu: "E se ela ainda me ver com dores?”

P'Nat suspirou.

"Eu lhe darei uma massagem. Satisfeito?"

Taohu sorriu e acenou com a cabeça, informando que entendia.

Pouco tempo depois, o táxi chegou e parou na calçada. A luz foi cortada, e a chuva pareceu fios dourados. Antes de Taohu começar a seguir P'Nat para a parte de trás do táxi, ele ouviu a velha música tocando da loja de karaokê no segundo andar do prédio. Porém, desta vez era diferente porque na música havia vozes de objetos cantando que não podiam ser ouvidas por mais ninguém, exceto por ele.

"Quero dizer que te amo tanto quanto o céu. Tenho medo de que minhas palavras não tenham tocado seu coração. Meu amor está transbordando há tanto tempo. Eu dou meu coração a você. Eu nunca finjo amar alguém..."[1].


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Notas:

[1] Música สัญญาใจ por Wong Chatree





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